quinta-feira, 9 de abril de 2009

É O NOVO TESTAMENTO PALAVRA DIVINA?

Leopold Stern


O Novo Testamento é a palavra de D´us? Os líderes cristãos asseguram a seus fiéis seguidores que sim.

Mas a fé verdadeira não é baseada em homens, conforme diz o Salmo 146:3. Ela também não se baseia em fenômenos sobrenaturais, como nos ensina Deuteronômio 13.

Ao ler o Novo Testamento, encontram-se alguns pontos relevantes que respondem à pergunta acima e não deixaram nenhuma sombra de dúvida.

Passarei a enumerar os principais a seguir.


1º. PONTO RELEVANTE

Em Atos 7:55,6:10, Estevão faz um resumo encapsulado da História Judaica, falando – conforme afirma o texto – inspirado pelo Espírito Santo. Seu discurso é uma antecipada expressão da tendência anti-semita que, mais tarde, viria a caracterizar as escrituras cristãs. Confira ITes 2:15; Jô 8:39-47; Mt 23:34-35.

Em Atos 7:4 Estêvão diz que Abraham partiu de Haran “depois da morte de seu pai”. Se ele tivesse estudado o livro de Gênesis (Gn 11:26,32;12:4), teria observado seu erro. Lá em Gênesis está escrito que Abraham partiu de Haran na idade de 75 anos, no tempo em que seu pai tinha 145 anos. Desde que Terah (pai de Abraham) viveu até a idade de 205 anos, na ocasião da partida de seu filho de sua cidade restava-lhe, ainda, outros 60 anos de vida.

No discurso de Estevão consta que 75 parentes de José foram chamados por ele para descerem ao Egito (At 7:14). Moisés dá um outro número em Dt 10:22, Gn 46:27, Ex 1:5 (“E todas as pessoas que vieram da coxa de Jacob eram 70 em número”).

Ainda em Atos 7:16, Estevão nos informa que Jacob foi enterrado em Shechêm e que a tumba foi comprada por Abraham de Emmôr. Em Gênesis a história a história é outra. Quando Sarah faleceu, Abraham, seu esposo, comprou a Caverna de Machpelá – que está em Chevrôn – como um lugar para túmulo. A Caverna foi comprada de Efron, o hitita, diferentemente do que diz Estevão em Atos (Confira Gn 23). Foi neste mesmo lugar que Jacob foi enterrado como está claríssimo em Gn 50:13. Na verdade, a confusão na cabeça de Estevão aconteceu entre a aquisição da Gruta – por Abraham – e um campo adquirido por Jacob como uma parcela de terra de Hamor, em Shechêm. Mas este pedaço de terra foi adquirido com o propósito de ser, apenas, um lugar para assentamento de sua tenda e um lugar para erigir um altar de adoração, não o seu túmulo.

Paira aqui uma pequena dúvida: alguém que tenha sido inspirado pelo Espírito Santo teria errado fatos tão importantes da História da Salvação? Ou isso não faz nenhuma diferença?

2º. PONTO RELEVANTE

Em Atos 1:18, lemos que Judas tomou as moedas de prata dos Sacerdotes Judeus e adquiriu um campo com elas. Mas Mt 27:5 diz outra coisa. Ali lemos que ele as devolveu aos Sacerdotes e pendurou-se a si mesmo (i.e, enforcou-se). Há uma contradição aqui.

3º. PONTO RELEVANTE

Onde está, entre as profecias de Jeremias, aquela que fala de 30 moedas de prata pelas quais teria sido Jesus vendido por Judas aos Sacerdotes conforme afirma Mt 27:9? Talvez Mateus tenha confundido Jeremias com Zacharias (cf Zc 11:12-13).

4º. PONTO RELEVANTE

Parece-me que Jesus não tinha boa memória. Ele mesmo confundiu dados das Escrituras a respeito de Zacharias. Em Mt 23:35 ele nos informa que Zacharias, filho de Berechiáh foi assassinado entre o Templo e o Altar. As Escrituras, no entanto, contam uma história diferente. Foi Zacharias filho de Jehoiaha que foi morto no Altar, cf IICr 24:20-21. Isto aconteceu nos dias do Rei Yoash (Joáz). Não existe qualquer indicação de que o profeta Zacharias, filho de Berachias (Zc 1:1) tenha sido morto da mesma forma.

5º. PONTO RELEVANTE

A última ceia de Jesus com seus apóstolos foi uma celebração de um Sêder da Festa Judaica de Pêssach (Páscoa) conforme relatam Mt 26:17-20, Mc 14:12, Lc 22:7, ou talvez o Dia da Preparação para o Pêssach conforme descreve Jo 19:14?

6º. PONTO RELEVANTE

João Batista foi Elias, como Jesus o denominou em Mt 11:14? Se sim, por que João mesmo negou isso em Jô 1:21? Estaria “Elias” tão indeciso sobre a identidade messiânica de Jesus (Lc 7:19-20)? E onde, nas Sagradas Escrituras, está escrito que Elias deveria ser maltratado como Jesus afirma em Mc 9:13? As Escrituras Judaicas não dizem o contrário? Elias não teria sucesso em sua Missão de restaurar harmonia entre o povo, cf diz Ml 4:5-6?

7º. PONTO RELEVANTE

Era Abiatar o Sumo-Sacerdote nos tempos que David comeu o pão consagrado – como Jesus cita em justificativa à violação do shabbat (sábado) por seus discípulos em Mc 2:25-26? Por quê nossas Escrituras dizem que o Sumo-Sacerdote da época era Avimêlech, o pai de Abiatar? (Cf I Sm 21:1)

8º. PONTO RELEVANTE

O padrasto de Jesus foi José, filho de Jacob, filho de Mathan, filho de Eliezer (Mt 1:15-16) ou José, filho de Eli, filho de Mattat, filho de Levy (Lc 3:23-24)? E como podem os dois serem colocados numa árvore genealógica válida incluindo Shealtiel e Zerubavel (Mt 1:12 e Lc 3:27) dado que ambos são descendentes de Jeconiah (I Cr 3:16-19) de quem D´us disse: “Nenhum homem de sua semente prosperará para sentar-se no trono de David ou governar qualquer coisa em Judah”? (Jer. 22:30)

9º. PONTO RELEVANTE

Desde que o ponto auge do Novo Testamento é: “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã” (I Cor 15:17), veja se é possível conciliar as conflitantes narrativas das aparições pós-ressurreição de Jesus.
Para citar apenas um exemplo, Jesus – após a ressurreição – revelou-se a:

- 11 discípulos na Galiléia (Judas, logicamente estava ausente) Mt 26:16; Mc 7:14

- Em Jerusalém para os 11. Lc 24:33,36

- Em Jerusalém para os 10 (pois Thomaz estava ausente) Jô 20:10,19,24

- A Pedro e depois aos 12 (I Cor 15:5). Esta versão – de Paulo – obviamente apresenta um problema: quem era o 12º. , uma vez que Judas já estava morto (Mt 27:5) e seu sucessor ainda não havia sido escolhido (At 1:26)?

10º. PONTO RELEVANTE

Mt 16:16-20 mostra que Pedro entendia corretamente que Jesus era o Messias. Ao constatar isso, Jesus emite a ele uma ordem clara para não revelar isso a ninguém.

Em Mateus 16:21-22, lemos: “Mas desde esse tempo, começou Jesus a mostrar a seus discípulos que lhe era necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos escribas, ser morto, e ressuscitado no terceiro dia. E Pedro , chamando-o à parte, começou a reprová-lo dizendo: Tem compaixão de ti, senhor , isso de modo algum te acontecerá”

O que está se passando aqui? Se fosse verdade que os Judeus daquela época acreditavam em que Is 53 é uma passagem que se refere ao Messias, Pedro deveria ter dito: “Sim, senhor, está correto! Nós entendemos que você deverá sofrer, pois, está dito em Is 53 que o Messias tem de sofrer e morrer”. Mas a atitude convicta de Pedro não é esta. Ele repreende Jesus a respeito deste sofrimento. Suas palavras têm o seguinte sentido: “Você está louco? Que conversa é esta de sofrimento e morte? O Messias nem de longe há de sofrer e morrer flagelado”.

A conclusão a que se pode chegar é: Pedro, o apóstolo, nunca soube – e os Judeus nunca souberam nem imaginaram – que Is 53 faz qualquer menção ao Messias, pois a morte nada tem a ver com ele. O critério é claro: “se o candidato a Messias morrer, está comprovado que não é o Messias”. Portanto, já nos tempos de Jesus ninguém associava Isaías 53 ao Messias.