domingo, 5 de novembro de 2017

HÁ VERDADE NO NOVO TESTAMENTO?


Christopher Hitchens
Se você pegar qualquer dos quatro Evangelhos e o ler ao acaso, não irá demorar a perceber que esse ou aquele ato ou dito atribuído a Jesus é assim para que uma antiga profecia se realize.
Falando da chegada de Jesus a Jerusalém, em lombo de burro, Mateus diz em seu capítulo 21, versículo 4: "Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelo profeta." A referência provavelmente é a Zacarias 9:9, em que é dito que, quando o Messias chegar, estará em lombo de um jumento. Os judeus ainda estão esperando essa chegada, e os cristãos alegam que ela já ocorreu!
Se parece estranho que uma ação deva deliberadamente ocorrer a fim de que uma previsão se realize, isso é porque é estranho. E é necessariamente estranho porque o "Novo" também é obra de carpintaria ruim, encaixado muito depois dos supostos acontecimentos e cheio de tentativas improvisadas de fazer as coisas parecerem certas. Por uma questão de concisão, eu devo me render a um escritor melhor que eu e citar o que H. L Mencken diz de forma irrefutável em seu Treatise on the Gods:
O fato simples é que o Novo Testamento, como o conhecemos, é uma acumulação atabalhoada de documentos mais ou menos divergentes, alguns deles provavelmente de origem respeitável, mas outros claramente apócrifos, e a maioria deles, tanto os bons quanto os ruins, mostram sinais inequívocos de terem sido adulterados.
O FILME “A PAIXÃO DE CRISTO”
Em 2004 foi produzido um filme melodramático sobre a morte de Jesus por um fascista e canastrão australiano chamado Mel Gibson. O sr. Gibson é membro de uma seita católica excêntrica e cismática composta basicamente por ele e seu pai ainda mais marginal e afirmou que é uma pena que sua própria esposa querida vá para o inferno porque não aceita os sacramentos certos. Ele serenamente define esse destino horrendo como "uma afirmação da cátedra". A doutrina de sua própria seita é explicitamente antissemita e o filme não se cansa de atribuir aos judeus a culpa pela crucificação. Apesar dessa intolerância óbvia, que produziu críticas de cristãos mais cautelosos, “A Paixão de Cristo” foi utilizado de forma oportunista por muitas igrejas "hegemônicas" como uma ferramenta de recrutamento. Em um dos eventos publicitários ecumênicos que patrocinou, o sr. Gibson defendeu sua mixórdia fílmica — que é também um exercício de homoerotismo sadomasoquista estrelado por um ator principal sem qualquer talento, aparentemente nascido na Islândia ou em Minnesota — como sendo baseada nos relatos de "testemunhas oculares".
Na época eu considerei extraordinário que uma produção multimilionária pudesse ser abertamente baseada em uma alegação tão claramente fraudulenta, mas ninguém pareceu se incomodar. Mesmo as autoridades judaicas em sua maioria mantiveram o silêncio. Mas depois alguns deles quiseram abafar essa velha discussão, que por séculos levou a pogrons pascais contra os "judeus assassinos de Cristo". Apenas duas décadas depois da Segunda Guerra Mundial o Vaticano formalmente retirou a acusação de teocídio contra o povo judeu como um todo. E a verdade é que os judeus costumavam pedir o crédito pela crucificação.
OS EVANGELHOS
Os quatro evangelhos presentes hoje no Novo Testamento não são forma alguma de registro histórico. Seus muitos autores — nenhum dos quais publicou qualquer coisa até muitas décadas após a crucificação — não conseguem concordar em nada importante.
Mateus e Lucas não chegam a um acordo sobre o Nascimento Virginal ou a genealogia de Jesus. Eles se contradizem completamente na "Fuga para o Egito", com Mateus dizendo que José foi "avisado em um sonho" a fugir imediatamente e Lucas dizendo que todos os três permaneceram em Belém até a "purificação de Maria de acordo com as leis de Moisés", o que demoraria quarenta dias, e então retornaram a Nazaré através de Jerusalém. (Apenas de passagem, se a fuga para o Egito de modo a proteger uma criança da campanha infanticida de Herodes tiver algum fundo de verdade, então Hollywood e muitos, muitos iconógrafos cristãos têm nos enganado. Teria sido muito difícil levar um bebê louro e de olhos azuis para o delta do Nilo sem atrair atenção.
O Evangelho de Lucas afirma que o nascimento milagroso ocorreu em um ano em que o imperador César Augusto ordenou um censo com objetivos fiscais, e que isso aconteceu na época em que Herodes reinava na Judeia e Quirino era governador da Síria. Isso é o mais perto de triangulação de datas históricas a que qualquer autor bíblico já chegou. Mas Herodes morreu quatro anos "a.C.", e durante seu reinado o governador da Síria não era Quirino. Nenhum historiador romano faz menção a qualquer censo de Augusto, mas o cronista judeu Josefo menciona um que ocorreu — sem a exigência custosa de que as pessoas retornassem a seu local de nascimento e seis anos após o suposto nascimento de Jesus. Isso, evidentemente, é uma reconstrução oral truncada realizada em um momento consideravelmente posterior ao "fato".
Os escribas não conseguem sequer concordar sobre os elementos míticos: eles discordam abertamente sobre o Sermão da Montanha, a unção de Jesus, a traição de Judas e a obsedante "negação" de Pedro. Ainda mais chocante, eles não conseguem produzir um mesmo relato da Crucificação ou da Ressurreição. Assim, a única  interpretação que temos de descartar é simplesmente a de que todas as quatro têm mandato divino. O livro no qual todos os quatro podem ter se baseado, especulativamente conhecido pelos estudiosos como "Q", se perdeu para sempre, o que parece algo claramente descuidado da parte do deus que alegadamente o "inspirou".
Há sessenta anos, em Nag Hammadi, no Egito, foi descoberto um tesouro de "Evangelhos" esquecidos perto de um sítio cristão copta muito antigo. Os pergaminhos eram do mesmo período e da mesma origem de muitos dos posteriores Evangelhos canônicos e "autorizados" e havia muito tinham recebido o nome genérico de "gnósticos". Esse foi o título dado a eles por um certo Irineu, um dos primeiros pais da Igreja, os baniu como sendo heréticos. Entre eles estão os "Evangelhos" ou as narrativas de personagens secundários, mas significativos, do "Novo" Testamento aceito, como o "Tomé Dídimo" e Maria Madalena.
Há também o Evangelho de Judas, que havia séculos sabia-se que existia, mas que agora foi revelado e publicado pela National Geographic Society na primavera de 2006. O livro é basicamente baboseira espiritualista, como era de esperar, mas oferece uma versão dos "acontecimentos" que é um pouco mais crível do que o relato oficial. Isso torna fácil entender por que ele foi tão categoricamente banido e atacado: o cristianismo ortodoxo não passa de uma realização e conclusão daquela história cruel. Judas participa da última refeição da Páscoa, como de hábito, mas se afasta do roteiro habitual. Quando Jesus parece lamentar que seus outros discípulos saibam tão pouco sobre o que está em jogo, seu seguidor patife diz claramente que acredita saber qual é a dificuldade. "Eu sei quem você é e de onde veio", diz ele ao líder. "Você vem do reino imortal de Barbelo". Esse "Barbelo" não é um deus, mas um destino celestial, uma terra natal além das estrelas. Jesus vem desse reino celeste, mas ele não é filho do Deus mosaico. Em vez disso, ele éum avatar de Set, o terceiro e menos conhecido filho de Adão. Ele é aquele que mostrará aos sétios o caminho de casa.
Reconhecendo que Judas é pelo menos um pequeno membro desse culto, Jesus o chama de lado e dá a ele a missão de ajudá-lo a abandonar sua forma carnal e assim retornar ao céu. Ele também promete mostrar as estrelas que permitirão a Judas segui-lo.
Por mais que isso seja uma ficção científica enlouquecida, faz infinitamente mais sentido do que a maldição eterna lançada sobre Judas por fazer o que era necessário nessa crônica, afora isso, pedantemente produzida de uma morte anunciada. Também faz infinitamente mais sentido do que culpar os judeus por toda a eternidade. Durante muito tempo houve um debate acalorado sobre quais dos "Evangelhos" deveriam ser considerados divinamente inspirados. Alguns defendiam esses, e alguns, outros, e muitas vidas se perderam de forma horrível em função disso. Ninguém se deu o trabalho de dizer que todos foram escritos pelo homem muito depois do suposto drama ter terminado, e o "Apocalipse" de São João parece ter sido contrabandeado para o cânone por causa do nome (bastante comum) de seu autor. Mas como disse Jorge Luis Borges, se os gnósticos alexandrinos tivessem vencido, algum Dante posterior teria oferecido a nós um hipnoticamente belo retrato escrito das maravilhas de "Barbelo". 
Eu poderia escolher chamar esse conceito de "o folhelho Borges": a verve e a imaginação necessárias para visualizar um corte de ramos e arbustos evolucionários, com a possibilidade extraordinária mas real de que um diferente ramo ou linha (ou música, ou poema) tivesse predominado no labirinto. Grandiosos tetos, campanários e hinos, poderia ele ter acrescentado, o teriam consagrado, e torturadores habilidosos teriam trabalhado durante dias naqueles que duvidassem da verdade de Barbelo: começando com as unhas dos dedos e abrindo caminho engenhosamente até os testículos, a vagina, os olhos e as vísceras. A descrença em Barbelo iria, de forma correspondente, ter sido um sinal inequívoco de que a pessoa não tinha qualquer moral. Este é o melhor argumento que conheço para a altamente questionável existência de Jesus. Seus discípulos sobreviventes analfabetos não nos deixaram qualquer registro, e de qualquer forma nunca poderiam ter sido "cristãos", já que nunca iriam ler esses livros posteriores em que os cristãos precisam afirmar a crença, e de qualquer forma não teriam qualquer ideia de que alguém iria um dia fundar uma igreja com base nos pronunciamentos de seu mestre. Também não há uma só palavra em qualquer dos Evangelhos posteriormente montados que indique que Jesus queria ser o fundador de uma Igreja.
Apesar de tudo isso, as profecias do Velho Testamento indicam que o Messias nasceria na cidade de Davi, que de fato parece ter sido Belém. Porém, os pais de Jesus aparentemente eram de Nazaré e, se tiveram um filho, ele mais provavelmente nasceu naquela cidade. Assim, um enorme volume de falsificações — relativas a Augusto, Herodes e Quirino — está envolvido na criação da história do censo e na transferência da cena da natividade para Belém (onde, por falar nisso, nunca é mencionado qualquer "estábulo"). Mas por que tudo isso, quando uma falsificação muito mais simples seria fazê-lo nascer diretamente em Belém, sem qualquer obrigação desnecessária? As próprias tentativas de consertar e ajeitar a história poder ser a prova contrária de que alguém de posterior importância de fato nasceu, de modo que retrospectivamente, e para cumprir as profecias, as provas teriam de ser um pouco trabalhadas. Mas então, mesmo minha tentativa de ser justo e aberto neste caso é prejudicada pelo Evangelho de João, que parece sugerir que Jesus nem nasceu em Belém nem era descendente do rei Davi. Se os apóstolos não sabem ou não conseguem entrar em acordo, qual o valor disso para minha análise?
Seja como for, se a linhagem real é algo do que se orgulhar e sobre o que profetizar, por que a insistência em outros pontos em um nascimento aparentemente humilde?
Quase todas as religiões, do budismo ao islamismo, apresentam ou um profeta humilde ou um príncipe que se identifica com os pobres, mas o que é isso a não ser populismo? Não surpreende que as religiões escolham se dirigir primeiramente a maioria de pobres, sofridos e ignorantes.
As contradições e ignorâncias do Novo Testamento encheram muitos livros de estudiosos importantes, e nunca foram explicadas por qualquer autoridade cristã a não ser em termos medíocres de "metáfora" e "um Cristo de fé". Essa mediocridade deriva do fato de que até recentemente os cristãos podiam simplesmente queimar ou silenciar qualquer um que fizesse perguntas inconvenientes. Os Evangelhos, porém, são úteis para mais uma vez demonstrar o mesmo ponto que os capítulos anteriores, o de que a religião é criação do homem. A lei é dada por Moisés, mas a graça e a verdade vêm de Jesus Cristo, diz São João. 
São Mateus busca o mesmo efeito, baseando tudo em um versículo ou dois do profeta Isaías, que disse ao rei Acaz, quase oito séculos antes da data ainda não definida do nascimento de Jesus que "o senhor dará a você um sinal: uma virgem irá conceber e dar à luz um filho". Isso encorajou Acaz a acreditar que conseguiria a vitória sobre seus inimigos (o que no final, mesmo se você considerar esta história uma narrativa histórica, ele não conseguiu). O quadro é alterado ainda mais quando sabemos que a palavra traduzida como virgem, especificamente “almah”, significa apenas "uma mulher jovem". Seja como for, a partenogênese não é possível em mamíferos humanos, e, mesmo se essa lei fosse violada apenas em um caso, isso não provaria que o bebê resultante teria qualquer poder divino. 
Assim, e como de hábito, a religião levanta suspeitas ao tentar provar demais. Por analogia inversa, o Sermão da Montanha replica Moisés no monte Sinai, e os discípulos não descritos fazem o papel dos judeus que seguiram Moisés para todo canto, fazendo com que dessa forma a profecia seja cumprida para qualquer um que não perceba ou não se importe com o fato de a história estar sendo produzida por "engenharia reversa", como podemos dizer hoje.
Em um pequeno trecho de apenas um Evangelho (aproveitado pelo agressor de judeus Mel Gibson), os rabinos são colocados a repetir Deus no Sinai e realmente pedir que a culpa pelo sangue de Jesus seja transmitida a todas as gerações subsequentes: um pedido que, mesmo que devesse ser feito, estava bem além do seu direito e do seu poder.
Mas o caso da Imaculada Conceição é a prova mais fácil de que humanos estiveram envolvidos na produção de uma lenda. Jesus faz grandes alegações sobre seu pai celestial, mas nunca menciona que sua mãe é ou era virgem, e é repetidamente rude e grosseiro com ela quando aparece, como fariam mães judaicas, para perguntar ou descobrir como ele estava indo. Ela própria parece não ter lembrança da visita do arcanjo Gabriel ou do enxame de anjos, todos dizendo que ela era a mãe de Deus. Em todos os relatos, tudo o que seu filho faz se revela a ela como uma completa surpresa, quando não um choque. O que poderia ele estar fazendo conversando com os rabinos no templo? 
O que ele está dizendo quando lembra a ela de forma lacônica que está no negócio do seu pai? Seria de esperar uma forte lembrança materna, especialmente em alguém que passou pela experiência,única entre todas as mulheres, de se descobrir grávida sem ter passado pelas  notórias condições para esse estado de graça. Lucas chega mesmo a cometer um deslize revelador em dado momento ao falar sobre os "pais de Jesus" ao se referir unicamente a José e Maria quando eles visitam o templo para sua purificação e são saudados pelo velho Simeão, que pronuncia seu maravilhoso Nunc dimittis, que (outro de meus velhos coros prediletos) também pode ser um pretendido ecoar de Moisés vislumbrando a Terra Prometida apenas em idade extremamente avançada.
Há então a questão extraordinária da grande prole de Maria. Mateus nos informa que havia quatro irmãos de Jesus e também algumas irmãs. No Evangelho de Tiago, que não é canônico mas também não é descartado, temos o relato de um irmão de Jesus de mesmo nome, que evidentemente era muito atuante nos círculos religiosos na mesma época. Vamos aceitar que Maria pudesse te  "concebido" como virgo intacta e dado à luz um bebê, o que certamente a teria deixado menos intacta nesse sentido. Mas como ela continuou a produzir filhos com o homem José, que só existe no discurso registrado e assim criou uma família sagrada tão grande que as "testemunhas oculares" continuam a chamar atenção para ela?
Para resolver esse dilema quase não mencionável e quase sexual, é mais uma vez aplicada a engenharia reversa, dessa vez muito mais recentemente que os frenéticos primeiros concílios da Igreja que decidiram quais Evangelhos eram "sinóticos" e quais eram "apócrifos". É determinado que a própria Maria (de cujo nascimento não há absolutamente nenhum relato no livro sagrado) teve uma "Imaculada Conceição" anterior que a deixou essencialmente pura. E é determinado ainda que, como a punição pelo pecado é morte e ela não podia ter pecado, não poderia ter morrido, daí o dogma da "Assunção", que estabelece que o ar rarefeito foi o meio pelo qual ela foi aos céus evitando o túmulo. 
É interessante notar as datas desses éditos maravilhosamente engenhosos. A doutrina da Imaculada Conceição foi anunciada ou descoberta por Roma em 1852, e o dogma da Assunção, em 1951. Dizer que algo "feito pelo homem" nem sempre é dizer que é estúpido. Essas heroicas tentativas de resgate merecem crédito, mesmo quando vemos o navio furado original afundar sem deixar vestígios. Mas, por mais inspirada que seja a resolução da Igreja, é um insulto à divindade alegar que tal inspiração foi de alguma forma divina.
Assim como o roteiro do Velho Testamento está repleto de sonhos e astrologia (o Sol se detendo de modo que Josué pudesse concluir seu massacre em um local que nunca foi localizado), a Bíblia também está cheia de previsões das estrelas (especialmente aquela sobre Belém), médico-feiticeiros e bruxos. Muitos dos ditos e das proezas de Jesus são inócuos, principalmente as "beatitudes" que exprimem pensamento positivo irreal sobre os humildes e os pacifistas. Mas muitos são  incompreensíveis e demonstram uma crença na magia, vários são absurdos e demonstram uma abordagem primitiva da agricultura (isso se estende a todas as menções a arar e cultivar e todas as alusões a mostarda e figueiras), e muitos são quase absolutamente imorais. 
A analogia de humanos com lírios, por exemplo, sugere juntamente com muitas outras injunções — que coisas como cultivo, inovação, vida familiar e assim por diante são absoluta perda de tempo. ("Não pense no dia seguinte.") Por isso alguns dos Evangelhos, canônicos e apócrifos, se referem a pessoas (inclusive membros de sua família) dizendo na época que achavam que Jesus devia ser louco. 
Também houve aqueles que perceberam que ele frequentemente era um judeu sectário bastante rígido. Em Mateus 15:21-28 lemos sobre seu desprezo por uma mulher cananeia que implorou por sua ajuda em um exorcismo e recebeu a resposta brusca de que ele não gastaria sua energia em um não judeu. (Seus discípulos, e a insistência da mulher acabaram convencendo-o a aceitar e expulsar o não-demônio.) Em minha opinião, uma história idiossincrática como essa é outra razão oblíqua para pensar que tal personalidade possa ter vivido.
Havia muitos profetas perturbados vagando pela Palestina na época, mas esse alegadamente acreditava, pelo menos parte do tempo, ser Deus ou filho de Deus. E isso fez toda a diferença. Suponha apenas duas coisas: que ele acreditava nisso e que também prometeu a seus seguidores revelar seu reino antes que eles chegassem ao fim de suas próprias vidas, todas menos uma ou duas de suas observações proverbiais fazem algum sentido. Esse ponto nunca foi destacado com maior franqueza que por C. S. Lewis (que recentemente ressurgiu como o mais popular apologista cristão) em seu Cristianismo puro e simples. Ele fala sobre a alegação de Jesus de pegar todos os pecados para si:
Assim, a não ser que quem fala seja Deus, isso realmente é tão despropositado que se torna cômico. Todos podemos compreender como um homem perdoa ofensas a si mesmo. Você pisa nos meus dedos e eu o perdoo, você rouba meu dinheiro e eu o perdoo. Mas o que devemos fazer com um homem, ele mesmo não roubado e não pisado, que anuncia que o perdoa por pisar nos dedos de outro homem ou roubar o dinheiro de outro homem? Estultice mular é a descrição mais gentil que poderíamos dar para seu comportamento. Mas foi isso o que Jesus fez. Ele disse às pessoas que seus pecados estavam perdoados e nunca esperou para consultar todas as outras pessoas que realmente tinham sido feridas por aqueles pecados. Ele se comportou, sem hesitação, como se Ele fosse a principal parte afetada, a principal pessoa ofendida em todas as ofensas. Isso só faz sentido se ele realmente fosse o Deus cujas leis são violadas e cujo amor é afetado a cada pecado. Na boca de qualquer um que não seja Deus, essas palavras significariam o que eu só posso ver como uma tolice e uma presunção não igualadas por qualquer outro personagem da história.
Deve-se notar que Lewis supõe, sem qualquer prova, que Jesus realmente era "personagem da história", mas vamos deixar isso de lado. Ele merece algum crédito por aceitar a lógica e a moralidade do que afirmou. Para aqueles que argumentam que Jesus podia ter sido um professor de moral sem ser divino (o teísta Thomas Jefferson alegou de passagem ser um deles), Lewis tinha essa resposta penetrante:
Essa é uma coisa que não podemos dizer. Um homem que fosse apenas um homem e dissesse o tipo de coisas que Jesus disse não seria um grande professor de moral. Ele seria ou um lunático — do nível do homem que diz ser um ovo escaldado — ou o Diabo do Inferno. Você precisa fazer sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou um louco ou coisa pior. Você pode calá-Lo por ser louco, pode cuspir Nele e matá-Lo por ser um demônio ou pode se jogar a Seus pés e chamá-lo de Senhor Deus. Mas não venha com qualquer absurdo paternalista sobre ser ele um grande  professor humano. Ele não nos deixou essa possibilidade. Ele não queria.
Eu não estou escolhendo um espantalho: Lewis é o principal veículo de propaganda escolhido para o cristianismo nos dias de hoje. E nem estou aceitando suas categorias sobrenaturais muito selvagens, como diabo e demônio. Ainda menos aceito seu raciocínio, que é patético como descrição precisa e que considera suas duas falsas alternativas como sendo antíteses excludentes e depois as usa para conceber um non sequitur grosseiro. ("A mim parece óbvio que Ele não era nem lunático nem um espírito mau: consequentemente, por mais estranho, aterrorizante ou improvável que possa parecer, tenho de aceitar a ideia de que Ele era e é Deus.") Porém, eu dou a ele o crédito da honestidade e de alguma coragem. Ou os Evangelhos são de certa forma essencialmente verdade, ou toda a coisa é fundamentalmente uma fraude e talvez uma fraude moral. Bem, pode ser afirmado com certeza que os Evangelhos quase certamente não são verdade literal. Isso significa que muitos dos "ditos" e ensinamentos de Jesus são ouvir dizer em cima de ouvir dizer, o que ajuda a explicar sua natureza truncada e contraditória. 
O mais deslumbrante deles, pelo menos retrospectivamente e certamente do ponto de vista dos crentes, diz respeito à iminência de seu segundo advento e sua completa indiferença com a fundação de qualquer igreja temporal. A logia ou as falas registradas são repetidamente citadas — por bispos da Igreja primitiva que queriam ter estado presentes mas não estiveram — como comentários de terceira mão ansiosamente pedidos. Vou dar um exemplo comum. Muitos anos após C. S. Lewis ter ido receber sua recompensa, um jovem muito sério chamado Bart Ehrman começou a estudar suas próprias suposições fundamentalistas. Ele tinha cursado as duas mais destacadas academias cristãs fundamentalistas dos Estados Unidos e era considerado pelos fiéis como sendo seu defensor. Fluente em grego e hebraico (hoje é titular de uma cátedra em estudos da religião), ele no final não conseguiu fazer sua fé conviver com seu conhecimento Ficou chocado ao descobrir que algumas das histórias mais conhecidas de Jesus foram inscritas no cânone muito depois do fato, e que isso era verdade para aquela que é talvez a mais conhecida de todas.
É a festejada história sobre a mulher apanhada em adultério. Quem não ouviu falar ou leu sobre como os fariseus judeus, com experiência em casuísmo, arrastaram a pobre mulher até Jesus e quiseram saber se ele concordava com a punição mosaica de apedrejá-la até a morte? Se ele não concordasse, violaria a lei. Se concordasse, transformaria em absurdo sua própria pregação. É fácil imaginar o pouco cuidado com que eles se lançaram sobre a mulher. E a resposta serena (após escrever no chão) — "Aquele dentre vocês que não tiver pecado, atire a primeira pedra" — penetrou em nossa literatura e em nossa consciência.
Esse episódio é até mesmo celebrado em celulóide. Faz uma aparição em flashback na caricatura de Mel Gibson e é um momento adorável do Dr. Jivago de David Lean, em que Lara procura o padre em seu pior momento e ouve a pergunta sobre o que Jesus disse à mulher caída. "Vá e não volte a pecar" responde ela. "E ela o fez, criança?", pergunta o padre duramente. "Não sei, padre."  “Ninguém sabe", retruca o padre, de nenhuma valia nas circunstâncias.
De fato, ninguém sabe. Muito antes de ler Ehrman, eu tinha minhas próprias perguntas. Se o Novo Testamento supostamente justifica Moisés, por que as terríveis leis do Pentateuco deveriam ser abaladas? Olho por olho, dente por dente e a morte de bruxas podem parecer brutais e estúpidas, mas se apenas os não-pecadores tiverem o direito de punir, como então uma sociedade imperfeita poderá determinar como processar criminosos? Todos devemos ser hipócritas. E que autoridade tinha Jesus para "perdoar"? Presumivelmente, pelo menos uma esposa ou marido em algum ponto da cidade deve ter se sentido enganado e ultrajado. O cristianismo é, então, completa permissividade sexual? Caso seja assim, ele tem sido seriamente mal compreendido desde então. E o que estava sendo escrito no chão? Mais uma vez, ninguém sabe, Ademais, a história diz que após os fariseus e a multidão terem dispersado (supostamente por constrangimento) não restou ninguém, a não ser Jesus e a mulher. Nesse caso, quem é 0 narrador daquilo que ele disse a ela? Por tudo isso, eu a considero uma história muito boa O professor Ehrman vai além. Ele fez perguntas mais óbvias. Se a mulher foi "flagrada em adultério", o que significa em flagrante delito, onde está o parceiro do sexo masculino? A lei mosaica, esboçada em Levítico, deixa claro que ambos devem ser apedrejados. Eu de repente me dei conta de que o grande encanto da história é o da trêmula garota solitária, apupada e arrastada por uma malta de fanáticos sedentos de sexo, finalmente encontrando um rosto amigo.
Quanto à escrita na poeira, Ehrman menciona uma antiga tradição segundo a qual Jesus estava rabiscando as transgressões dos outros presentes, assim levando a rubores, desconforto e finalmente uma partida apressada. Eu descobri que adoro a ideia, mesmo que isso signifique um grau de curiosidade mundana, lascívia (e presciência) terrena da parte dele que apresenta suas próprias dificuldades.
Amarrando tudo, há o fato chocante de que, como reconhece Ehrman:
A história não é encontrada em nossos melhores e mais antigos manuscritos do Evangelho de João; seu estilo é muito diferente do que encontramos no restante de João (incluindo as histórias imediatamente anterior e posterior) e inclui um grande número de palavras e frases que fora isso são estranhas ao Evangelho. A conclusão é inevitável: essa passagem originalmente não era parte do Evangelho.

Eu mais uma vez escolhi minha fonte com base no critério de "provas contra o interesse": em outras palavras, de alguém cuja formação original e jornada intelectual não eram de modo algum voltadas para desafiar a palavra divina. A defesa da consistência, da autenticidade ou da "inspiração" bíblica tem problemas há algum tempo, e as falhas e os remendos se tornam cada vez mais óbvios com melhores pesquisas, de modo que nenhuma "revelação" virá daquele campo. Assim, portanto, deixemos os defensores e partidários da religião confiarem apenas na fé, e que eles sejam corajosos o bastante para admitir que é isso o que estão fazendo.

domingo, 29 de outubro de 2017

A VERDADE SOBRE O SANTO GRAAL


O Novo Testamento é um livro que foi totalmente controlado por um só homem: o Imperador pagão Constantino.  Todos acham que ele era cristão, no entanto, Constantino foi pagão por toda a vida.  Foi batizado somente em seu leito de morte.

Constantino era o homem  supremo de Roma. Por muitos séculos, seu povo cultuou o equilíbrio entre as divindades masculinas da natureza e a deusa – ou o sagrado feminino. Mas uma crescente desordem religiosa estava atingindo Roma em seus dias.

Três séculos antes disso, um jovem Judeu, chamado Jesus surgiu pregando o amor e um Deus único.  Depois de sua crucificação,  seus seguidores cresceram consideravelmente e iniciou-se uma guerra religiosa entre cristãos e pagãos. Ninguém sabe exatamente quem a iniciou.

O conflito cresceu em tais proporções que ameaçava dividir o Império de Roma.

Constantino pode ter sido pagão a vida toda. Mas ele era pragmático. No ano 325 dC ele resolveu unificar Roma sob uma única religião: o cristianismo. 

Para fortalecer esta nova tradição cristã, Constantino convocou um famoso encontro ecumênico, conhecido como Concílio de Niceia.

Nesse Concílio, as várias seitas do cristianismo debateram e votaram sobre quase tudo: desde a aceitação e a rejeição de certos evangelhos até a data da Páscoa, como seriam administrados os sacramentos, além, é claro, da imortalidade de Jesus.

Até aquele momento da História, Jesus era visto por muitos de seus seguidores como um grande profeta, um homem poderoso, mas apenas um homem, ou mais especificamente: um  mortal, como qualquer outro Judeu. Ninguém o via como filho de Deus e nem sequer como um “sobrinho distante”.

Constantino não criou a divindade de Jesus. Ele apenas sancionou uma ideia que estava se difundindo naquele momento entre as massas de origem pagã e as agradava, já que eram acostumadas a personalizar seus deuses e dar-lhes forma.

Para muitos cristãos, Jesus passou de mortal para divino da noite para o dia. Muita gente morreu por causa disso.

Nesse momento, havia algo que devia ser guardado com um grande segredo, pois, se  revelado, abalaria os pilares do cristianismo. Era Maria Madalena, esposa de Jesus.  Ela foi estigmatizada pela igreja como ‘prostituta’, em 591 dC, a fim de justificar as decisões que faziam de Jesus um deus, desde o Concílio de Niceia.

O evangelho de Felipe – um apócrifo, rejeitado junto de outros evangelhos por aquele primeiro Concílio  por retratar Jesus como humano e não como deus – diz:

“E a companheira do salvador é Maria Madalena.  Jesus a amava mais do que todos seus discípulos e costumava beijá-la com frequência.” Nesta época, a palavra ‘companheira’ significava ‘esposa’. 

Maria Madalena, inclusive, é autora de um evangelho também apócrifo. Há um trecho em seu livro que diz:

“E Pedro disse: ‘Ele a preferiu a nós’.  E levi respondeu: ‘Pedro, vejo que competes com uma mulher como com um adversário. Se o salvador a tornou digna, quem és tu para rejeitá-la?” E na sequência desse trecho, Jesus diz a Maria Madalena que cabe a ela continuar sua igreja.  Maria Madalena, não Pedro. 

Segundo Jesus, a igreja deveria ser conduzida por uma mulher.

Maria Madalena descendia de Reis Judeus, como seu marido (por parte da mãe).

Em francês  medieval, a palavra Santo Graal se diz:  San Greal. Ligando-se as duas palavras, tem-se: SANGREAL, ou Sangue Real.

Quando a lenda do Rei Arthur fala do cálice que continha o sangue de Cristo, falava do ventre feminino que levava a linhagem do sangue real de Jesus, pois, Maria Madalena estava grávida quando Jesus morreu.

Para sua própria segurança e do filho de Jesus, ela deixou a Terra Santa e foi para a França.  Lá, ela deu à luz sua filha: Sarah.

Acontece que as mulheres eram uma grande ameaça à igreja no mundo. A Inquisição católica logo publicou o livro que seria o mais sanguinário da História humana: o Malleus Maleficarum, o Martelo das Bruxas. Este é o livro pelo qual o clero localizava, torturava e matava todas as mulheres liberais.

Em três séculos de caça às bruxas, mais de 50 mil mulheres foram caçadas, torturadas e queimadas vivas na fogueira. Alguns dizem que foi muito mais.

Porém, o trono de Cristo estava verdadeiramente nas mãos de uma menina.

Esta é a maior ocultação da verdade de toda a História.

sábado, 5 de julho de 2014

QUEM É JUDEU, HOJE?

LEOPOLD Y. STERN
Houve um tempo em que a gente sabia quem era Judeu. Mesmo que o sujeito não usasse indumentária típica, ele agia como Judeu, falava como Judeu e fazia perguntas.
Mas a coisa mudou.
Os Judeus verdadeiros se misturaram com os não-Judeus. Não se tornaram só semelhantes, mas congruentes. Guardar shabat? Nem pensar. Eles comem e bebem de tudo. Falam de tudo e de todos os modos. Aquela ética do Pirkei Avot? Evaporou. Vivem imbuídos do “topa tudo por dinheiro”.
Tive um vizinho de sobrenome “da Silva” que passarei a chamá-lo de Carlos. Certo dia, Carlos começou a usar uma kipá azul. Até então, eu era o único a usar kipá nas redondezas até porque há pouquíssimos Judeus no meu bairro, e os que estão lá enquadram-se na descrição que acabo de fazer. Eu perguntei a ele do que se tratava.  E ele me respondeu dizendo que descobriu ter ancestrais cristãos-novos. Por ter ouvido muito essa conversa de “descendentes de cristãos-novos” por aí, resolvi ir fui mais fundo.
- Ah, sim? E como você soube disso?
- Li num livro sobre os arquivos da Inquisição Portuguesa que mencionava um David da Silva que foi torturado por manter costumes Judaicos.
- E ele era seu parente? Quando foi isso?
- Foi no século XVII. Ele deve ser um antepassado meu, porque meu bisavô veio de Portugal.
Eu fiquei chocado com a rapidez das conclusões. “Como pode ser isso?”,  pensei.
A vida prosseguiu.
Meses depois, vi uma mezuzá pregada em sua porta. Depois foram os adesivos de Magen David no carro, segulôt de grandes rebeím penduradas no espelho retrovisor e outros “sinais”. Enfim, chegou o dia em que ele me disse:
- Fiz a minha conversão. Agora sou um descendente de Abraão, Isaac e Jacob legalizado.
- Onde você fez isso? – questionei.
- Numa sinagoga de S. Paulo. Tornei-me amigo do rabino. Ele e sua esposa fizeram a minha conversão. Tenho até o atestado em hebraico. Agora posso entrar e sair de Israel.
Sim, ele foi a Israel. Era um apaixonado pela Terra Santa. Eu já sabia que ele nasceu evangélico e seus pais lhe ensinaram que a salvação era garantida para os israelitas. Somou-se a isso a leitura da biografia de Einstein, Freud e outros, além do que, ele sempre comentava da “prosperidade e riqueza do Povo Judeu”.  De fato,  após 1948, os israelenses mostraram ao mundo sua capacidade de construção de um estado,  defesa e de governo. Tudo isso são atrativos para um imenso número de pessoas que desconhecem a realidade e o esforço que a nossa religião exige no cumprimento de seus preceitos e conceitos. 
Ele passou dois anos em Êretz Israel. Aprendeu hebraico, conseguiu documentos, mudou de nome... e agora, que voltou como “Judeu legalizado”, até nega seu passado gentio. Sua conversão aconteceu numa sinagoga reformista paulista, de fato aceita pela rabanut de Israel. Ele diz-se Judeu desde que nasceu. E curiosamente, já começa a deixar aqueles primeiros elementos que o identificavam. Já não usa mais a kipá, come de tudo, trabalha no shabat etc. Tsitsit, nem pensar!
É assim. Os Stein, os Man, os Berg, os Baum, os Blat, os Owicz, Ovsky e quase todos os outros, dão, agora, seus lugares para os “da Costa”, “da Silva”, “Oliveira”, “Pereira” etc, etc.
Até em Israel a coisa anda meio estranha. Todos os árabes falam hebraico, mas quantos Judeus falam árabe? Qual o problema de um árabe usar kipá e tsitsit e passar por Judeu? Estive lá há dois meses e não se solicitou meus documentos nenhuma vez em 18 dias de estada.
A identidade Judaica de hoje está confusa, senão perdendo-se.  Baruch Hashem, não entre os religiosos. Meu  receio é que, sempre que isso ocorreu, algum “goy meshige” engendrou um plano de perseguição e extermínio que nos lembrou de quem realmente somos.
É ótimo que tenhamos pessoas que gostem da nossa religião e queiram se converter. No entanto, tornar isso fácil faz-nos parecidos com tantos que se veem em canais de tevê pregando salvações e curas!
É uma pena que tenha de ser assim!



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

terça-feira, 30 de novembro de 2010

OS JUDEUS NÃO MATARAM JESUS CRISTO


Rosa Cass

Há quase dois mil anos, os judeus têm sido vítimas de perseguições, discriminação, martírio e assassinato coletivo, acusados sem prova do crime de ter matado Jesus, um rabino revolucionário que se pretendia Filho de Deus, fazia milagres, curava pessoas e pregava aos seus compatriotas pobres, acenando-lhes com o Reino dos Céus caso aceitassem os novos preceitos. Esses conceitos se espalharam pelo mundo através dos discípulos de Jesus, dos pregadores e dos quatro evangelistas – Mateus, Marcos, Lucas e João – que deixaram cada um o relato escrito sobre a caminhada do Cristo e de sua Paixão, até sua morte na cruz, em Jerusalém, ainda que só um deles tenha vivido diretamente a experiência como apóstolo, junto ao auto-proclamado Messias.

Depois de séculos de sofrimento, impedidos de exercer profissões e de possuir terras, ainda na idade média, suportando pogroms na Rússia e na Polônia até o início do século passado e sobrevivendo a um assassinato coletivo de cerca de 6 milhões de judeus na Alemanha de Hitler, só faltava agora um filme, “A Paixão de Cristo”, (produzido e dirigido pelo conhecido ator Mel Gibson), tentar reviver o drama vivido por Jesus, sob o Império Romano, dando cores à história com fortes tintas de crueldade para induzir o público à acreditar na pretensa responsabilidade dos judeus na crucificação do dito filho de D’s.

Isto no século XXI, apesar de tantas dissidências religiosas e ignorando, cabalmente, o fato do Papa João Paulo II ter pedido desculpas públicas ao povo judeu pelos anos de violência e tortura (Inquisição e outros crimes) passados em nome desse secular equívoco. É verdade que hoje nas aulas de catecismo a criança não aprende, como aconteceu em outros tempos com um filho de judeu não religioso, casado com uma católica, que deveria ter “horror aos judeus porque eles tinham matado Jesus”.

“O que ensinamos às nossas crianças é baseado no amor e não no ódio. Que Cristo veio ao mundo para trazer paz e união e nos salvar dos nossos pecados” diz a jornalista e diretora dos Estúdios Moinhos, Fátima Fonseca, 46 anos, ex-catequista de uma igreja no Centro do Rio de Janeiro, dois filhos, cuja menina de oito anos já está nas aulas de catecismo.

Fátima ainda não viu o filme de Mel Gibson, pretende assisti-lo em circuito comercial, mas entende que, em nenhuma parte da doutrina cristã – e ela se classifica como estudiosa do assunto – está mencionada a culpa dos judeus pela morte de Cristo.

Nós, apenas, registramos sua opinião.

O Evangelho segundo Mel Gibson

Todos com quem Menorah conversou e que assistiram “Paixão de Cristo” concordam que o filme é de extrema violência, muito forte e que foca principalmente a brutalidade com que Jesus foi tratado desde a flagelação até morrer na cruz. Na opinião de Glória Severiano Ribeiro, católica tradicional ligada ao chamado Grupo do Terço, responsável pela exibição especial do filme para um grupo de católicos e de “Legionários de Cristo”, não foram os judeus que mataram Cristo – “Jesus se deu por nós, ressuscitou e passou por tudo para nos salvar. Escolhi exibir o filme Paixão de Cristo porque estamos na Quaresma, época importante para meditarmos sobre a vida e sobre o sacrifício de Jesus.”

A seu ver, o filme de Gibson é muito forte e cruel e não deve ser assistido por crianças, porém não é anti-semita, “pois tudo que está nele, está na Bíblia”. Mas o importante nele é a mensagem: de que não se deve buscar culpados e, ao contrário, reconhecer que a morte de Jesus aconteceu para nos salvar dos nossos pecados. O filme de Gibson não é anti-semita, ele é fiel à Bíblia (referência ao Testamento cristão).

Segundo a historiadora Anita Novinsky, professora de “História da Inquisição e História dos Cristãos Novos” na Universidade de São Paulo e presidente do Laboratório de Intolerância Religiosa da mesma universidade, os judeus não mataram Jesus e o filme de Mel Gibson é anti-semita, sim, mostrando sangue, muito sangue, para quê?

Recém chegada da Europa, onde criou filiais do instituto que preside em Paris, Lisboa e Madri, Anita Novinsky disse que viu apenas partes do filme e não todo ele e nem pretende assisti-lo. De São Paulo, ela falou à Menorah: “É um filme de um autor católico fanático, negacionista, filho de um negacionista que nega o Holocausto, e que gastou, cerca de dois milhões de dólares para construir uma capela em sua casa, onde era rezada missa diariamente durante o tempo da filmagem. E que, segundo se falou, era assistida obrigatoriamente pelos integrantes do elenco.”

A historiadora Novinsky vai mais adiante em suas conclusões: “Com essa produção, que está causando polêmica no mundo ocidental, além de ganhar muito dinheiro, Mel se tornou o maior propagandista da igreja católica na atualidade e pelo impacto do que foi mostrado conseguiu trazer de novo para o seio da igreja, um grande número de fiéis que se tinha transferido para outras religiões e seitas. Ou seja, é um filme propagandístico, brutal, que levanta as pessoas mas não transmite a grande mensagem.”

A historiadora não faz a ilação, mas somando os fatos sobre o filme, tem-se a impressão que Mel Gibson, com sua interpretação linear da doutrina cristã, pode ter assumido o papel de quinto evangelista.

Ele usou o cinema, um dos mais diretos meios de comunicação de massa, e fez os atores se comunicarem em aramaico (a língua falada pelo povo judeu da época) e latim, para estabelecer no espectador a sensação de pertencimento, pela reprodução de condições da época. Ou, nessa linha, Gibson auto-referiu-se como defensor da fé católica, numa nova cruzada contra os infiéis que não seguem o estrito e estreito caminho da interpretação secular literal das escrituras e do Novo Testamento.

Os Romanos é que mataram Jesus

Entrevistado pela revista Menorah, o rabino Eliezer Stauber, dirigente da Sinagoga Kehilat Yaacov, em Copacabana, disse que não viu o filme, mas acompanha a polêmica sobre o assunto. A seu ver, é importante alinhavar argumentos para restabelecer a veracidade dos fatos contados na “Paixão de Cristo”, de Mel Gibson: “Estou mais preocupado é com os judeus – jovens e adultos – que desconhecem a nossa religião em profundidade e podem ser influenciados pelos fatos na interpretação do diretor.

Os judeus com toda a certeza não mataram Jesus. Primeiro, porque Jesus foi crucificado em Pessach e em época de Pessach não havia julgamento. Portanto, o sinédrio não poderia condenar nem Cristo nem ninguém. Segundo, o sumo-sacerdote não se ocupava com assuntos de justiça, como foi o caso de Jesus, e sim com os serviços do Templo. Terceiro, a crucificação era um castigo romano, e não judaico.

Além disso, o próprio papa João Paulo II reconheceu a inocência dos israelitas ao pedir desculpas ao povo judeu pela injustiça de culpá-lo pela morte de Cristo e pelo que isso representou de sofrimento, perseguições e torturas ao longo do tempo. Será que o autor do filme pensou em contrariar o próprio Papa?” Como conseqüência, o rabino Stauber afirma que se este filme traduz erro na atitude do Papa João Paulo II quando absolve os judeus e pede desculpas pelo que fez a Igreja, então o filme é anti-semita, diante de um cenário religioso católico.

Para o rabino da sinagoga de Copacabana, a interpretação de que o Sumo Sacerdote pediu a cabeça de Jesus porque ele estava atrapalhando os negócios do templo, ou porque ele era revolucionário não faz sentido. E explica: “Sempre houve discordância religiosa entre os judeus, à época havia os saduceus, os fariseus, os zelotas e os essênios e ninguém jamais foi julgado, condenado e morto por discordâncias religiosas. Jesus foi um rabino revolucionário, sim, que pregava no seio do seu povo. Mas sua influência na época era pequena e não justificava a punição drástica que sofreu. A expansão do cristianismo foi muito posterior à morte de Jesus e se deu pela pregação de seus discípulos e continuadores”.

Stauber credita a Pilatos a crucificação de Jesus, pelo receio de que a multidão que acorria a Jerusalém durante o Pessach pudesse se insurgir contra os romanos pelos excessos na cobrança de impostos. Ou seja, pelo medo que tinha de perder o lugar de representante romano em Jerusalém (o filme mostra o contrário). Stauber ressalta: “pela minha experiência no Rio de Janeiro, na Faculdade, nas aulas ministradas através de bíblias antigas, há a idéia de que nós seríamos culpados dessa morte, o que não é verdade”. Ele aproveita a entrevista à Menorah para lançar a idéia de que as escolas judaicas devam esclarecer o assunto para os seus alunos. Quem sabe, não fica confuso, diz. Entende a situação dentro do cenário da época em que aconteceu. Não se impressiona facilmente.

Testemunho não foi direto

Na opinião do padre jesuíta, Jesus Hortal, há nove anos, reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), “não se pode colocar a culpa da morte de Jesus nos judeus. Inclusive o Concílio do Vaticano já definira um pedido de desculpas formal por toda a história de violência e acusações perpetradas contra este povo do qual Jesus Cristo sempre fez parte”. Hortal não viu o filme, nem pretende assisti-lo, mas, pelo que sabe do trabalho de Mel Gibson considera “Paixão de Cristo” um filme realista, literal, transcrito dos Evangelhos (Testamento cristão).

É nesse contexto que o reitor da PUC - Rio de Janeiro faz suas considerações: “Os evangelhos não são um livro de história, de interpretação teológica e catequista. Por isso, o testemunho muda de evangelista para evangelista, devido ao universo público para o qual se dirige. Exemplo: Marcos, que escreveu depois da destruição do Grande Templo de Jerusalém cita os judeus cinco vezes e nele não há conotação de enfrentamento com Jesus” diz padre Hortal. Por outro lado, ele acrescenta: o último evangelho, de São João, foi escrito 90 anos depois da morte de Cristo, ali, a expressão “judeus” aparece 65 vezes e quase sempre com sentido polêmico.

Então, os leitores de João já não sabem sobre os sacerdotes, os saduceus, os fariseus. É por isso que João usa uma linguagem genérica, os judeus. Daí não ser fácil fazer uma leitura sobre a vida de Jesus sem conhecer na prática essas diferenças todas”.

Assim, pondera Jesus Hortal, ainda sobre a morte de Jesus: “eram os saduceus que dominavam o Templo e tinham uma atitude de colaboração com os romanos e por isso, no conflito com Jesus, tentaram desligar o aspecto religioso do caráter político. Daí porque o julgamento final tenha sido com Pilatos. Desse modo, é falso dizer “judeus”, genericamente, ou dar caráter coletivo ao povo por essa morte”.

Ainda sobre o filme, Hortal entende que Gibson cometeu um erro ao escolher o latim como língua falada pelos soldados romanos. Compreende que o cineasta possa ter querido dar a impressão de tempo real ao escolher o aramaico, falado pelo povo judeu, “mas os soldados romanos que serviam em Jerusalém, naquela época, falavam grego, pois se originavam de uma região grega, dominada pelo império romano”. Concluindo, padre Hortal diz: “Trasladar responsabilidades de um grupo para uma única pessoa é incorreto. E mais, uma multidão reunida costuma ser irracional, manipulada. Quando um grita algo, todos gritam.”

Segundo depoimento do médico católico de 34 anos, ex-aluno do Colégio Santo Inácio, casado, dois filhos, o ortopedista Rodrigo Santiago, diretor da Clínica Ortopédica Arnaldo Santiago, é preciso reconhecer quatro aspectos principais na história da morte de Jesus Cristo: literal, histórico, místico e a mensagem de Deus. Conforme entende, no caso da crucificação de Cristo, é um erro de interpretação literal do ponto de vista da sociedade a teoria da conspiração recorrente que vem à baila, por menos verdadeira que ela seja, e um boato que corre e se perpetua há séculos, lembrem-se do caso Dreyfus, bem mais próximo”. Santiago lembra que essa teoria conspiratória, que não tem testemunho direto, nem prova alguma, costuma ser acrescida da idéia de poder dos judeus no mundo. A mensagem mística é que Jesus é o Filho de Deus, nascido e criado judeu, e seria um contra-senso

imaginar que seu povo seria culpado de sua morte. Jesus veio para salvar a humanidade e deixar palavras de amor, união e paz.

Senti-me em Jerusalém com Jesus

Para o padre José Maria Ramirez, espanhol de Salamanca, mas, há seis anos vivendo no Brasil, integrante da “Ordem dos Legionários de Cristo” no Rio de Janeiro e pároco da igreja Nossa Senhora da Misericórdia, o filme de Mel Gibson teve um efeito singular: fez com que tivesse a sensação do tempo real, como se tivesse participado dos acontecimentos, tal o realismo das cenas. Padre José Maria não considerou o filme anti-semita, embora o ache forte e violento, porém fiel ao evangelho.

“Já tinha discutido o assunto da culpa de Jesus com Franco Zefirelli, no filme sobre Jesus de Nazaré, diz o religioso. Gibson fez um esforço para seguir as Sagradas Escrituras. Mas os personagens não culpam os judeus, pois quando Caifás e Anáz, dois sacerdotes, querem condenar Jesus, outros dois integrantes do Sinédrio foram contra julgá-lo à revelia”, pondera padre José Maria, em entrevista à Menorah. No seu entendimento, a morte de Cristo foi resolvida por Pôncio Pilatos porque achava que Jesus estava à beira de liderar uma insurreição contra Cesar. “Inclusive no filme, fiquei comovido quando, em uma cena, um senhora pede a um homem que ajude Cristo a carregar a cruz.” Ele lembra que os evangelhos não culpam o povo pelo martírio de Cristo, ainda que a multidão em Jerusalém que assistia a crucificação pareça ter apoiado a morte de Jesus.

A história ainda não acabou

Para o rabino Rony Gurwicz, da sinagoga Heichal Eliauh, ligado ao colégio Barilan e ao grupo Bnei Akiva “cada povo tem sua história e os cristãos também têm a sua: a crucificação e a ressurreição de Jesus”. Ele indaga o por quê deste fato despertar o interesse de tantos outros que não os próprios cristãos, para responder: “A diferença é que sua história envolve outros povos, alguns romanos e todo o povo judeu. Mas devido às suas peculiaridades, esta história ainda não acabou: uma história de séculos de perseguições, inquisições e massacres”, ele acrescenta.

Conforme o rabino Rony relembra, em 1965, o Vaticano publicou um documento intitulado “Nostra Aetate”, no qual deplora o anti-semitismo e rejeita as acusações de deicídio, feitas por dois mil anos ao povo judeu. Neste documento, o Vaticano não questiona os evangelhos, mas reconhece que seus textos, como quaisquer outros, estão à mercê da interpretação humana. “E, é isso que Mel Gibson faz em seu filme. Conta a história do evangelho sob sua visão artística. Dos quatro evangelhos, um deles não faz nenhuma referência ao açoitamento de Jesus e os outros três trazem uma breve menção. Porém, no filme, tal fato transformou-se em uma cena de nada menos do que 10 minutos de tortura e sadismo (romano, bem entendido). Outra polêmica do filme é a figura de Satã, que aparece quatro vezes ao longo da fita, em duas delas caminhando entre os judeus. Porém a figura de Satã não é mencionada em nenhum dos Evangelhos, muito menos de maneira a relacioná-los com os Judeus.

No entendimento do rabino Rony Gurwicz, existem muitas outras polêmicas e opiniões sobre o filme em questão. Há judeus que não o consideram anti-semita, há padres que o consideram. Mas, qual a lição que podemos tirar de tudo isso? “Nossa melhor resposta a esse esforço de Hollywood é olhar para dentro, para nós mesmos e ter orgulho de nossa própria fé. Devemos mostrar que, para nós, a responsabilidade e o esforço de cada um é o caminho para a realização espiritual. Mostrar que não acreditamos no fato de que alguém possa morrer por nossos pecados e muito menos que D’s exija a morte de um filho seu para apaziguar sua ira. Além do anti-semitismo que possa despertar, a grande polêmica do filme, para nós judeus, não é se fomos ou somos responsáveis pela morte de Jesus, mas sim a definição de D’s e o relacionamento que temos com Ele. Esses são os assuntos que realmente importam e que estão distorcidos na tela”. Conclui, citando Ernest Hemingway: “Em meu entendimento, o judaísmo sob o qual fui criado, ao contrário do cristianismo, é uma religião da vida, não uma religião da morte”.

Na opinião de Herenice Auler, professora de Teologia da escola Mater Eclesiae (Mãe da Igreja) no Rio de Janeiro, destinada a formar estudiosos e catequistas católicos, os verdadeiros culpados da morte de Jesus, fomos nós, (ela se inclui) porque Ele morreu para nos salvar dos nossos pecados. Conforme ressalta, Jesus é amor e só pregou o amor, além disso, veio para salvar a humanidade. Os judeus foram apenas o estopim daquele grupo de políticos, como Caifás e Anáz, do lado judeu, e Pilatos, do lado romano. Quando Pilatos tentou fazer o sinédrio condenar Jesus, Caifás, lhe devolveu o problema, alegando que a acusação de Rei dos Judeus, a ele imputada, era uma questão a ser resolvida pelos romanos. Quem conhece um pouco da história, lembra-se que Pilatos quis colocar a águia romana na Pretória (uma espécie de embaixada), para afirmar o poder de Roma. Os judeus protestaram e Cesar admoestou o Governador da Judéia, informando que não queria mexer com a religião dos judeus. Assim, creio eu, por temer outra reprimenda de Roma, ele, Pilatos, decidiu crucificar Jesus”.

Segundo a professora de teologia, formada também em Ciências Sociais, desde que passou a ensinar educação religiosa, jamais informou a qualquer de seus alunos que os judeus mataram Cristo. Diz que jamais deu, através de seus ensinamentos, margem a qualquer sentimento anti-judaico.

Deturpação histórica e muito ódio

Falando do Rio Grande do Sul, à Menorah, por telefone, o médico e escritor Moacyr Scliar considera uma ingenuidade culpar os judeus pela morte de Cristo. “Cristo nasceu judeu, cresceu como tal e morreu judeu, ainda que na cruz. E pregou para o seu povo, tentando uma reforma da religião judaica. Muitos anos depois de sua morte, grupos usaram o fato como pretexto para perseguir um grupo de pessoas que não era bem visto ao longo do tempo”.

Conforme argumenta, “se o filme de Mel Gibson resolve levantar essa questão de novo, deve ser

visto como um retrocesso e um fanatismo, que equivale ao mesmo fanatismo daqueles que em nome da religião realizaram o atentando contra os trens de Madri, matando e ferindo tantos inocentes.”

Moacyr Scliar acrescenta, para terminar: “Não devemos esquecer que o filme foi feito em Hollywood, tem efeitos especiais, maquiagem e não assegura a verdade histórica, porque não temos nenhum documento direto da vida e obra de Jesus, ou, ainda, nenhum tipo de documentário da época.”

Para o psicólogo e advogado Jacob Pinheiro Goldberg, que falou a Menorah da capital paulista, “os evangelhos devem ser submetidos a várias interpretações, pois não constituem um testemunho direto e sim quatro versões sobre a vida e obra de Jesus”. “O que acontece é que a gente tem que ler os Evangelhos inseridos na época de Jesus e do judaísmo de então. É um absurdo acreditar que os judeus tenham matado Jesus. Tudo leva a acreditar que ele morreu pela impressão dos romanos de que poderia trazer problemas e desafiar seu império. Pilatos temia sublevação, porque a época era terrível e achou que Jesus pudesse ser uma ameaça. A morte de Jesus pelos judeus foi uma terrível farsa imposta pela Igreja, provada pelo fato de que ela se tornou romana. Na época em que Jesus foi crucificado, algumas centenas de judeus também morreram na cruz. Quanto ao filme, “Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, assisti-o e achei anti-cristão e anti-semita. Sua temática é um retrocesso, com interpretações das mais retrógradas, racistas e fruto de ódio e a serviço dele”.

Os entrevistados de Menorah, ainda que com vivências diferentes sobre a vida e a religião, apresentam pontos de vista comum: a necessidade de união entre os homens, a concórdia entre os povos, o respeito às diferenças entre pessoas e culturas, no sentido de restabelecer a liberdade, a justiça e o amor não egoísta na humanidade. Não é uma utopia e sim uma esperança. Nesse contexto, o filme Paixão de Cristo não acrescenta tolerância, com suas cenas de brutalidade e abuso do poder temporal de Pilatos. E dificilmente servirá como mensageiro do entendimento.

“A PAIXÃO DE CRISTO”

Ronaldo Gomlevsky

Mel Gibson não é o alvo de nossos problemas históricos com a Igreja. Ator, produtor e diretor hollywoodiano, fez um filme mentiroso. Muito bem. De repente, virou bode expiatório das milenares e falsas acusações de deicídio, promoção de planos de dominação mundial, assassinato ritual, usura, desumanidade, raça inferior, traição, dupla nacionalidade, comércio ilegal, contrabando, lesa-pátria, adjetivos com que nós judeus temos sido definidos e que levaram nosso povo, desde a perda de sua soberania em sua própria terra, há dois mil anos, até os campos de concentração de Hitler, nos anos 40 do século XX.

Passando pelas fogueiras da Inquisição, com direito a paradas sistemáticas nos boxes do preconceito diário, dos assaltos dos nobres da Idade Média aos nossos caixas, dos púlpitos dos padres católicos tendenciosos, nos boxes de tantos governos que nunca nos respeitaram, de tantos Papas que mandaram que nos roubassem, dos pogroms dos cossacos (ataques violentos seguidos de estupros de mulheres e assassinatos de velhos e crianças), chegamos até aqui. A lista é muito grande e nós todos a conhecemos bem.

Mel Gibson, é verdade, fez um filme sobre a paixão de Jesus que entre outras considerações é uma verdadeira sentença condenatória e para sempre contra os judeus (quem mata Deus, deve pagar com seu próprio sofrimento, e eternamente). Nada mais fez do que

retratar, de acordo com sua ótica burra e tradicional, o acontecimento dito histórico. Nenhum espectador deste filme sairá do cinema com impressão diferente. A responsabilidade e a culpa dos judeus da época, pelo crime cometido é absolutamente clara, evidencia o tal filme. Aos homens de boa fé, não é esse novo filme o mais importante. O cerne da questão é o comportamento dos povos católicos, apoiados pela Santa Madre Igreja, contra os judeus ao longo destes dois mil anos. Comportamento este assentado em mentiras deslavadas, que por interesses escusos foram tantas vezes repetidas, que em algum momento acabaram virando verdade. Mel Gibson é apenas mais um que as está repetindo.

Este filme está nos dando uma grande oportunidade de discutir o assunto. Portanto, façam como eu fiz. Vejam o filme, sim. Não caiam nessa de deixá-lo passar em branco. Vejam o filme, formem sua opinião, aproveitem para ler sobre o tema, se informem, debatam com quem for necessário, assumam sua posição de judeus e saiam engrandecidos, definitivamente, dos confrontos que serão necessários travar. Não fujam do tema e muito menos tenham medo.Vamos aproveitar nossa liberdade e fazer o que sempre deveríamos ter feito.Vamos corrigir a mentira histórica que virou verdade. Vamos ao debate. Vamos provar que um povo subjugado por uma potência estrangeira jamais poderia propor qualquer tipo de justiça ao tribunal do conquistador, quanto mais colocá-la em prática. Vamos provar que na Via Dolorosa, não cabia antes e não cabe agora, uma multidão de gente. Basta ir ao local e verificar.

O local é muito estreito, mal cabem cinco pessoas em sua largura. Seu espaço é muito restrito. Vamos provar que um governador romano nada perguntaria sobre nenhum assunto a um Sumo Sacerdote, muito menos lhe pediria para decidir sobre a vida e a morte. Atribuição especial do poder dominante. Vamos provar que os judeus pagavam a Roma, o maior dos tributos financeiros daquela época e constituíam um povo de quase mendicância. Vamos provar que toda a possível pregação de Jesus tinha como alvo a potência dominante que massacrava e espezinhava seu povo, o povo judeu, ao qual pertencia sem nunca tê-lo negado. Nem nos evangelhos. Povo este, antes livre, e naquele momento entregue cativo aos poderosos conquistadores romanos, sem qualquer poder de reação. Vamos provar que não é de nossa cultura, torturar e matar.

Nós judeus, sempre fizemos a opção de morrer ao invés de matar. Quem sempre matou por opção foram os nossos inimigos. Talvez se tivéssemos realmente optado por matar, assim como, por tanto tempo, a Igreja quis fazer crer, e hoje, o mesmo tenta fazer Mel Gibson, nós seríamos os que nos assassinaram e os assassinos reais teriam sido mortos. Seríamos os verdadeiros poderosos do mundo e não os trapos humanos de Auschwitz e do Gueto de Varsóvia. A pura verdade para mim está inserida num contexto de dominação humana, no qual nos permitimos, historicamente, nos colocar como dominados. Esta não é mais nossa condição. Em nosso país, o Brasil, somos livres. Não para censurar filmes, mas para aprendermos a debater e a vencer os debates nos quais tenhamos razão, mesmo neste caso da morte de Jesus, e ainda que no Brasil, a maioria do povo seja constituída de católicos apostólicos romanos.

QUEM É JUDEU? O QUE É JUDAÍSMO

INTRODUÇÃO

alguns anos convidei um oficial do exército japonês, que estava estudando nos Estados Unidos, a assistir um serviço religioso que eu ia dirigir. Terminado o serviço, quando nos dirigíamos para casa, ele me perguntou:

- Qual é o ramo do Cristianismo representado por sua igreja?

- Nós somos judeus - respondi - adeptos da judaica.

Meu amigo japonês ficou intrigado. Ele era xintoísta, mas lera a Bíblia cristã.

- Mas o que são os judeus? - perguntou o oficial japonês.

- O senhor se lembra dos israelitas de que fala a Bíblia: Abraão, Moisés e Josué?

- Lembro-me.

- Pois bem, nós somos aqueles israelitas.

O Major Nishi exclamou no auge da estupefação:

- O quê?! Aquela gente ainda existe?!

Do Livro “What is a Jew” do rabino Morris Kertzer

Embora entre nós a presença tangível de uma comunidade judaica exclua a possibilidade de semelhante diálogo, tomo a liberdade de afirmar, sem receio de cair em exagero, que existe um desconhecimento generalizado do que são os judeus, suas crenças e seus postulados de e conduta. Irei mais longe: estou convencido de que esse desconhecimento caracteriza não a grande massa de não-judeus, como também aos próprios judeus em proporção nada desprezível. Por isso, pareceu-me cabível e necessário oferecer um conjunto de informações sobre o tema poucas vezes abordado: O que é o Judaísmo?

Nãodúvida de que uma tradição de quatro milênios, tão rica de implicações em toda a civilização ocidental, dificilmente poderia ser resumida nas poucas páginas de uma apostila de um seminário sem que se arriscasse melindrar a magnitude de tamanha herança. Desejo deixar patente, por essa razão, que a minha intenção foi a de apresentar uma introdução sumária, como que uma vista panorâmica. Não se trata de traçar uma exposição filosófica e teórica do Judaísmo, mas apenas um relato de suas práticas e crenças, sob forma de diálogo vivo, que lembrasse uma conversação casual e espontânea.

Considerando-se que o Judaísmo está em constante processo de criação, nem sempre se consegue uma única interpretação cabal em relação aos elementos de sua complexa bagagem histórica e doutrinária. Torna-se praticamente impossível, portanto, fazer sua apresentação sem que se exponha a objeções e controvérsias.

Assim sendo, convém deixar claro que não tenho o menor propósito de incentivar polêmicas, como também não me apeguei a nenhuma corrente determinada de interpretação. Vou me sentir altamente recompensado – e com isso o meu esforço encontraria sua plena justificação – se este modesto trabalho conseguir despertar curiosidade para futuras leituras, mais específicas e profundas, e conseguir lançar um pouco de luz, pelo menos em parte, sobre certas impressões errôneas no que se refere aos judeus, suas crenças e seus costumes.

A.S.


CAPÍTULO 1

O QUE É UM JUDEU ?

É muito difícil encontrar uma simples definição do que é um judeu.

De acordo com a Lei vigente para concessão de cidadania em Israel e em todo o mundo religioso Judaico, Judeu é todo aquele que nasce de uma mãe Judia, ou que aceita, de todo o coração e sem restrições, a judaica. Esta é a definição religiosa.

Judeu é aquele que, não tendo afiliação religiosa formal, considera os ensinamentos do Judaísmo - sua ética, seus costumes, sua literatura - como propriedade sua. Esta é a definição cultural.

Judeu é aquele que se considera judeu ou que assim é considerado pela sua comunidade. Esta é a definição prática.

Como parte de inegável importância para qualquer definição válida, deve-se dizer também o que o judeu não é. Os judeus não são raça. A história revela que através de casamentos e conversões o seu número sofreu acréscimos sem conta. Há judeus morenos, louros, altos, baixos, de olhos azuis, verdes, castanhos e pretos. E apesar da maioria dos judeus serem de raça branca, há os judeus negros, os Falashas, na Etiópia, os judeus chineses de Kai-Fung-Fu e um grupo de judeus índios no México, cuja origem, até hoje, ainda é um mistério para os antropólogos e arqueólogos.

Para se compreender o Judaísmo, a busca do absoluto no ritual e no dogma deve ser abandonada, para dar lugar a um exame de ampla filosofia à qual se subordina a nossa .

As nossas regras de culto são muito menos severas do que as de conduta. Nossa crença no que se refere à Bíblia, aos milagres, à vida eterna - é secundária em relação à nossa nas potencialidades humanas e nas nossas responsabilidades para com o próximo. As modificações introduzidas, no decorrer dos anos, no ritual e nos costumes, são de menor importância comparadas com os valores eternos que fortaleceram a nossa através de incontáveis gerações e mantiveram o Judaísmo vivo, em face de todas as adversidades.

O Judaísmo sempre foi uma viva, crescendo e modificando-se constantemente como todas as coisas vivas. Somos um povo cujas raízes foram replantadas com demasia freqüência, cujas ligações com as mais diferentes culturas foram muito intensas para que o pensamento e tradições religiosas permanecessem imutáveis. Sucessivamente, os judeus fizeram parte das civilizações, dos assírios e babilônios, dos persas, dos gregos e romanos e, por fim, do mundo cristão. As paredes do gueto foram mais uma exceção do que propriamente uma regra no curso da história. Tais experiências, inevitavelmente, trouxeram consigo certas modificações e re-interpretações.

De qualquer maneira, a religião judaica conseguiu se desenvolver sem submeter-se ao dogmático ou ao profético. A do judeu exige que ele jejue no Dia do Perdão. Mas enquanto jejua, aprende a lição dos profetas que condenam o jejum que não é feito com probidade e benevolência. Ele vem à sinagoga para rezar e, durante o culto, as palavras de Isaías dizendo que a oração é inútil a não ser que ela seja o reflexo de uma vida de justiça e de misericórdia. Assim, o Judaísmo continua sendo uma flexível, que os valores através de símbolos e ao mesmo tempo se precaver contra cerimônias superficiais.

Acreditamos em Deus, um Deus pessoal cujos caminhos ultrapassam a nossa compreensão, mas cuja realidade ressalta a diferença que existe entre um mundo com finalidades e outro sem propósitos.

Acreditamos que o homem seja feito à imagem de Deus, que o papel do homem no universo é único e que, apesar da falha de sermos mortais, somos dotados de infinitas potencialidades para tudo o que é bom e grandioso. São essas as nossas crenças religiosas básicas (1).


CAPÍTULO 2

QUAIS OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO JUDAÍSMO ?

A maneira mais autêntica de adorar Deus é a imitação das virtudes divinas: como Deus é misericordioso, assim também devemos ser compassivos; como Deus é justo, assim devemos tratar com justiça ao próximo; como Deus é tardo em se irritar, assim também devemos ser tolerantes em nossos julgamentos.

O Talmud(2) fala em três princípios básicos da vida: a Torá, ou instrução; o culto ou o serviço de Deus, e a caridade ou a prática de boas ações.

· O amor ao saber domina a judaica. Desde o primeiro século da era cristã, têm os judeus um sistema de educação obrigatória. A responsabilidade pela educação dos pobres e dos órfãos cabia à comunidade tanto quanto aos pais. Tampouco se alheavam os antigos rabis à psicologia educativa. No primeiro dia de escola as crianças ganhavam bolos de mel com o feitio das letras do alfabeto, para que associassem o estudo ao prazer.

· O segundo princípio básico desta religião é o serviço de Deus. Desde sua mais tenra meninice aprendem os judeus que Ele deve ser adorado por amor, e nunca por temor.

· O terceiro fundamento do Judaísmo é a caridade, a genuína caridade que brota do coração(3). Não existe outra palavra hebraica para traduzir caridade senão a que significa "dádiva eqüânime", Nedava", em hebraico . A filantropia, observou um notável erudito, nasceu de dois elementos da religião judaica: o conhecimento de que tudo quanto possuímos é propriedade do Senhor; e a convicção de que o homem pertence a Deus.

Para o judeu piedoso, a filantropia não conhece fronteiras raciais ou religiosas. De acordo com os rabis: "Exige-se de nós que alimentemos os pobres dos gentios tanto como nossos irmãos(3) judeus..." Ninguém está isento da prática da caridade - diz o Talmud -, "até quem vive de uma pensão deve dar ao pobre"!

No primeiro século da nossa era, o Rabi Iohanan(4) perguntou a cinco de seus mais preclaros discípulos o que consideravam o alvo supremo da vida. Cada qual ofereceu a sua fórmula predileta. Depois de ouvir a todos, disse Iohanan: "A resposta do rabi El´azar ainda é a melhor - um bom coração".

Outro grupo de estudiosos procurou um único verso da Bíblia que destilasse a essência da judaica. E encontraram-no nas palavras do profeta Miquéias: "Que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça e ames a beneficência e andes humildemente com o teu Deus".

CAPÍTULO 3

OS JUDEUS ACREDITAM QUE O JUDAÍSMO É A ÚNICA RELIGIÃO VERDADEIRA?

Os judeus consideram a sua religião a única para os judeus; jamais condenam, porém, o devoto de qualquer outra . Diz-nos o Talmud: "Os justos de todas as nações merecem a imortalidade".

Acreditam eles em certos conceitos éticos essenciais: decôro, benevolência, justiça e integridade. A estes consideram verdades eternas, mas sem se arrogarem o monopólio dessas verdades, pois reconhecem que toda grande religiosa as descobriu. Era o que Rabi Meir tinha em vista quando, há cerca de dezoito séculos, afirmou "Gentio que segue a Torá não é inferior ao nosso Sumo Sacerdote".

CAPÍTULO 4

OS JUDEUS SE VÊEM COMO “O POVO ELEITO” ?

As palavras "povo eleito" deram origem a muitas ilações capciosas. A maioria delas provém da falta de familiaridade com a tradição judaica e de uma incompreensão daquilo que o Judaísmo considera seu papel específico e sua responsabilidade.

Não se consideram os judeus dotados de quaisquer características, talentos ou capacidades peculiares, nem tampouco que gozem de algum privilégio especial aos olhos de Deus. A Bíblia refere-se à escolha de Israel por Deus, não em termos de preferência divina, mas antes por divina intimação. Israel foi escolhido para trilhar uma vida de grandes exigências espirituais; para honrar e perpetuar as Leis de Deus e transmitir a Sua herança.

Relata a tradição o episódio do Monte Sinai, em que a Torá foi completada. Deus oferecera o rôlo sagrado a diversas outras nações antes de oferecê-lo a Israel. Julgando que os Dez Mandamentos lhes impunham muitas limitações, os moabitas recusaram a Torá. Tampouco os amonitas quiseram aceitar restrições à sua liberdade pessoal. Israel, porém, aceitou a Lei sem reservas.

Os judeus de nossos dias, portanto, consideram-se um povo que escolhe, antes que um povo escolhido, e aceita "o peso da Torá", e a responsabilidade de transmitir sua moral básica e suas verdades espirituais.

Todavia, os judeus responsáveis rejeitam qualquer degeneração desse senso de fatalidade num arrogante e vazio jacobinismo ou numa confusão de responsabilidade com privilégio.

CAPÍTULO 5

QUAL O CONCEITO JUDAICO DE PECADO ?

O conceito judaico de pecado se ampliou e transformou através dos séculos. Para os antigos hebreus, o pecado consistia na violação de um tabu, uma ofensa contra Deus, pela qual deveria ser oferecido um sacrifício expiatório. Gradativamente, com o correr dos anos, este conceito se dilatou. O pecado passou a significar a nossa inabilidade em nos conformarmos com nossas plenas potencialidades, o nosso malogro em cumprir nossos deveres e arcar com as nossas responsabilidades como judeus e como povo de Deus.

Estas "grandes expectativas" provenientes da criação do homem à imagem de Deus, são acentuadas em todos os ensinamentos judaicos. Narra certa lenda do Talmud que ao entregar a Torá a Moisés, Deus chamou para testemunhar não apenas os judeus do tempo de Moisés, porém os judeus de todas as gerações futuras. Cada judeu, portanto, deve considerar-se como tendo aceito pessoalmente a Lei e os elevados ideais dados a seus pais, como depositários, nas faldas do Sinai. Deixar de pautar a vida por estes altos padrões, constitui pecado.

A tradição judaica distingue entre pecados contra a humanidade e pecados contra Deus. Os primeiros - transgressões de um homem contra seu próximo - somente podem ser reparados com a obtenção do perdão daquele que foi agravado. Orações não podem expiar tais pecados; Deus não intervém para redimir as dívidas do homem para com o seu semelhante.

Os pecados contra Deus se cometem por quem se alheia à sua . Estes podem ser expiados pela verdadeira penitência, que em hebraico se exprime pela palavra "retorno", Teshuvá, em hebraico quer dizer, um regresso a Deus e uma reconciliação com Ele. Isto pode ser conseguido por meio de uma análise honesta de nossas almas, um reconhecimento sincero de nossas imperfeições e uma firme resolução de preencher o vácuo entre o credo e o ato.

CAPÍTULO 6

ACREDITAM OS JUDEUS EM CÉU E INFERNO ?

Houve tempo em que a idéia do céu e do inferno teve acolhida generalizada na teologia judaica. Embora não contenha qualquer referência direta a um futuro mundo concreto ou físico, o Antigo Testamento faz algumas vagas e poéticas alusões a uma vida posterior. E durante o período da dominação persa sobre Israel, diversos ensinamentos do Zoroastro, entre os quais a noção de um céu e um inferno futuros, tornaram-se populares entre os judeus.

Hoje, estes acreditam na imortalidade da alma - uma imortalidade cuja natureza é conhecida de Deus - mas não aceitam um conceito literal do céu e do inferno.

Os judeus sempre se preocuparam mais com este mundo do que com o outro e sempre concentraram seus esforços religiosos na criação de um mundo ideal para nele viverem.

CAPÍTULO 7

ACREDITAM OS JUDEUS NA VINDA DO MESSIAS ?

A crença na vinda do Messiasum descendente direto de David por linhagem patriarcal, portanto: um herdeiro do Trono de seu antepassado, que redimirá a humanidade e estabelecerá o Reino de Deus na terra – faz parte da tradição judaica desde os dias do profeta Isaías. Há quem veja nas palavras de Moisés a respeito de um profeta maior que ele o prenúncio da vinda do Messias (Mashíach, em hebraico)

Conforme descreviam as profecias, o Messias deveria ser um ente humanoisto é: com um pai e uma mãe – dotado de dons muito especiais: sólida capacidade de comando, grande sabedoria e profunda honestidade. Empregaria ele tais faculdades no estímulo à revolução social que ensejaria uma era de perfeita paz. Nunca, porém, houve qualquer alusão a um poder divino que seria gerado. Encarava-se o Messias como um grande chefe, um modelador de homens e da sociedade, mas, com tudo isso, um ser humano, e não um Deus.

A maioria dos judeus nutre a crença num Messias não como um Redentor individual, mas de toda a humanidade que, coletivamente, pelos seus próprios atos, seria capaz de introduzir entre nós o Reino de Deus. Quando a humanidade alcançar um nível de verdadeira sapiência, bondade e justiça, então será esse o Dia do Messias.

Não existe qualquer alusão na Torá ou nos profetas de que o Messias nasceria de uma virgem. Inclusive o que ocorre na passagem do livro de Isaías em que se : “Portanto, uma virgem conceberá e dará uma luz a um filho e será seu nome ´Imanu El...” nada mais é do que um grosseiro e até aparentemente erro proposital de tradução. Onde se virgem na tradução deveria constar a palavrajovem mulher” , o que não significa, necessariamente, uma virgem.

CAPÍTULO 8

OS JUDEUS E A COMUNIDADE

A lei que manda procedermos corretamente para com o próximo é o ponto de partida de todos os ensinamentos judaicos. Não possui o Judaísmo uma complexa filosofia da justiça. Ao contrário de Platão e Aristóteles, os pensadores judeus pouco se esforçaram por desenvolver uma filosofia democrática sistematizada. De fato, não existe uma palavra hebraica para significar democracia, e para designar a noção esse mesmo termo é tomado de empréstimo aos gregos. Mas o credo social, segundo o qual os judeus têm vivido durante séculos, está de acordo com as mais elevadas tradições da democracia.

São básicos do Judaísmo os seguintes princípiostambém básicos da democracia:

  • Deus não faz distinção entre os homens baseado em credos, cor ou condição social; todos os homens são iguais a Seus olhos(5).
  • Todo homem é o guarda de seu irmão - temos responsabilidade pelas faltas de nosso semelhante tanto quanto pelas suas necessidades.
  • Sendo feitos à imagem de Deus, todos os homens dispõe de infinitas possibilidades para o bem; por conseguinte, o papel da sociedade é evocar o que de melhor existe em cada pessoa.
  • A liberdade deve ser apreciada acima de todas as coisas; logo as primeiras palavras dos Dez Mandamentos(6) descreveram Deus como o Grande Libertador.

O tema da liberdade e da igualdade perpassa constantemente através da história tetra-milenar do povo judeu. O travo freqüente da injustiça, enquanto ele vagueava de país em país, reforçou uma tradição arraigada na sua .

O profeta Jeremias exortou seus seguidores a procurarem a prosperidade da terra em que habitavam. E os judeus sempre sentiram a obrigação de participar plenamente da vida da comunidade.

CAPÍTULO 9

POR QUÊ OS JUDEUS SE PREOCUPAM COM OS DIREITOS DE OUTROS GRUPOS MINORITÁRIOS ?

Amiúde, os judeus têm sido vítimas de tirania e da opressão. Sua familiarização com dominadores cruéis e arbitrários remonta à época dos faraós. Um dos postulados primordiais do Judaísmo é lutar contra o tratamento injusto de qualquer ente humano, sejam quais forem a sua raça, religião ou estirpe.

Pessoas tratadas injustamente tornam-se freqüentemente amarguradas e retribuem os golpes maltratando outros, mais fracos, sempre que têm oportunidade. O povo Judeu, no entanto, reagiu sempre ao próprio sofrimento com profunda sensibilidade pela dor alheia.

A simpatia pelas desgraças de seus semelhantes tornou-se parte do modo de viver dos judeus. Afabilidade para com os estranhos é tema constante no Velho Testamento, com a freqüente admoestação: "Lembrai-vos de que éreis estrangeiros na terra do Egito".

Quanto a este assunto, tenho um comentário importante a fazer.

A realidade é que grande parte de nossas escolas desconsidera completamente os princípios descritos acima. Alunos de determinada idade sofrem humilhações por parte de outros mais velhos. Ressentidos, passam a descarregar suas mágoas sobre os mais novos. Cria-se assim um círculo vicioso que, se não for interrompido, tende a perdurar. Este fato não se limita a escolas não judaicas. Conheço bem isto por experiência própria e por relatos de amigos e familiares.

O mais grave é que muitos professores acham tudo isso normal. Argumentam que as crianças precisam aprender a lidar com as dificuldades da vida. Os alunos que mais desrespeitam (dizia-se “sacaneiam” na minha época) são considerados espertos. Os que nos recusamos a tal prática somos chamados de bobos, otários, etc.

A pressão psicológica é tão grande que crianças de boa índole acabam sentindo vergonha de serem diferentes da maioria e passam a praticar maldades para poderem ser aceitas em círculos de amizade, mesmo sentindo-se mal com isso. À medida que não são repreendidas mas, ao contrário, elogiadas, incorporam tal comportamento para o resto de suas vidas.

Isto aconteceu comigo. Felizmente, senti-me tão mal com isso que consegui retornar à minha condição original. É preciso tomar providências para que esta situação seja modificada.

CAPÍTULO 10

O MATRIMÔNIO E A FAMÍLIA

O Judaísmo criou dezenas de ritos e cerimônias para a família, os quais uniram a fidelidade familiar aos deveres religiosos e assim reforçaram tanto o lar quanto a religião.

A religião judaica mede a dignidade do homem em relação ao círculo de sua família pelo respeito e consideração pelos pais e avós, pela estima entre marido e mulher; pelo reconhecimento dos direitos da criança. No lar judeu não falta autoridade, embora em nada lembre um regime autoritário. Cada membro da família tem um papel importante, indispensável; em conjunto, todos asseguram a continuidade da família e da religião.

O traço mais característico do lar judeu reside, provavelmente, na ênfase que põe na unidade do convívio familiar. Sugere o Talmud que os judeus devem partilhar das alegrias e tristezas dos filhos.

Muitas famílias judias de hoje, a exemplo de alguns dos seus vizinhos não judeus, se apartaram dos hábitos tradicionais de família. Porém a maioria mantém os elevados padrões e os importantes valores da associação que sempre merecerão ser preservados.

CAPÍTULO 11

É VERDADE QUE PARA O JUDAÍSMO O LAR É MAIS IMPORTANTE QUE A SINAGOGA ?

Sim, decididamente. Se todos os templos israelitas tivessem de fechar, a vida religiosa judaica permaneceria intacta, por que o seu centro está no lar.

Os judeus consideram o seu lar um santuário religioso. A família é a fonte principal do seu culto, e seu ritual tanto se destina ao lar quanto à sinagoga. A mãe, acendendo as velas de sábado - nas noites de sexta-feira; o pai, abençoando os filhos à mesa de sábado; as dúzias de ritos oportunos e significativos que acompanham a observância de todo dia santo judaico; o pergaminho que, fixado ao umbral das portas dentro de uma caixinha chamada Mezuzá, proclama o amor a Deus - tudo isto forma parte integrante do ritual e do cerimonial. A religião Judaica é essencialmente uma religião familiar.


CAPÍTULO 12

O CASAMENTO JUDAICO

Muitos dos costumes ligados à cerimônia nupcial provêm, em grande parte, mais da prática local do que da lei judaica. Em todos os países onde os judeus se estabeleceram, adotaram, além dos ritos exigidos pela sua religião, alguns dos costumes não-religiosos de seus vizinhos não-judeus. As regras protocolares, os convites, a ordem do cortejo decorrem mais de hábito que da lei.

Há, todavia, certos ritos e símbolos tradicionais ligados à maioria dos casamentos judaicos. Entre estes se incluem o dossel (Hupá) sob o qual se recebem os votos matrimoniais; o cálice de vinho onde tanto a noiva quanto o noivo bebem no princípio e no fim da cerimônia; a simples e desataviada faixa nupcial; e o documento do matrimônio religioso, chamado Quetubá.

Cada um desses símbolos tradicionais é dotado de uma variedade de significados. O dossel empresta uma atmosfera de realeza à ocasião, pois a noiva e o noivo são considerados rei e rainha no seu dia de bodas. É também um símbolo do recolhimento a que o par recém-casado faz jus. Na cerimônia tradicional, permite-se à noiva e ao noivo deixarem os convidados por alguns momentos de intimidade não vigiada - um alívio bem recebido pelos dois que se acham tão assoberbados por dezenas de parentes e amigos.

O anel - que não precisa ser feito de ouro - é um símbolo de perfeição e eternidade, o círculo sem princípio nem fim. A questão que se faz da simplicidade do anel é típica da tradição judaica de igualdade, porquanto um anel sem enfeites diminui a diferença entre um par de noivos pobre e outro rico. O presente de um anel sem pedras é, porém, questão de costume, não de lei.

Partilharem a noiva e o noivo um único cálice do vinho, lembra o seu destino comum, pois daí em diante suas vidas são inseparáveis. Originariamente, o primeiro cálice, no início da cerimônia nupcial, representava os esponsais ou compromisso, e o segundo o próprio matrimônio. Hoje nos referimos freqüentemente ao primeiro como o cálice da alegria, que é ainda mais alegre por ser partilhado. O segundo é o cálice do sacrifício. A responsabilidade que cai sobre o homem e a mulher é aliviada quando duas pessoas, profundamente dedicadas uma à outra, a suportam em igual medida.

O ato de quebrar o cálice representa o ponto culminante do ofício tradicional e é interpretado de muitas maneiras. Alguns o consideram um vestígio de magia primitiva. Entre muitas tribos antigas, era hábito fazerem forte ruído em ocasiões jubilosas para afugentar os espíritos maus, invejosos da felicidade humana. Mas a tradição judaica sustenta que o cálice partido é uma lembrança da destruição do templo, um símbolo das mágoas de Israel. No meio de sua ventura pessoal, o par recém-casado é advertido das amarguras da vida e morigerado pela idéia de suas responsabilidades.

CAPÍTULO 13

EXISTE DIVÓRCIO NO JUDAÍSMO ?

O divórcio sempre foi raro na comunidade judaica. Todavia, quando as divergências entre marido e mulher são tão irreconciliáveis que tornem intolerável a vida em comum, o Judaísmo permite o divórcio, sem reservas. “Um lar cheio de amor”, dizem-nos os nossos mestres, “é um santuário; um lar sem amor é um sacrilégio”.

Na tradição judaica se considera maior mal para os jovens serem criados num lar sem paz e respeito mútuo do que terem de encarar o divórcio dos pais. Quando duas pessoas não podem encontrar uma base comum para prosseguir em seu casamento, a despeito de reiterados e autênticos esforços, o Judaísmo sanciona e aprova-lhes o divórcio.

CAPÍTULO 14

QUAL O PAPEL DA ESPOSA E DA MÃE NA FAMÍLIA E NA VIDA RELIGIOSA ?

Toda véspera de sábado, a família praticante recita o último(7) capítulo dos Provérbios, como tributo à esposa e à mãe, ideais do Judaísmo.

As virtudes exaltadas naqueles vinte e dois versos resumem os dotes de uma perfeita esposa: um ser humano reverente, eficiente, compreensivo, de um otimismo alegre, de coração aberto para socorrer os necessitados que lhe batem à porta e, acima de tudo, a pessoa sobre quem toda a família pode apoiar-se.

Desde o Bíblico livro dos Provérbios até as modernas baladas populares judaicas, a esposa e a mãe têm sido descritas como a encarnação da terna dedicação, do altruísmo e da fidelidade à própria crença. A mãe impõe o tom espiritual à vida familiar, é a principal responsável pelo desenvolvimento do caráter dos filhos e mantém a família unida em face da adversidade.

A tradição judaica impõe poucas obrigações rituais à mulher na vida da sinagoga, mas atribui-lhe responsabilidade total em relação à atmosfera de piedade do lar e à preservação dos ideais judaicos. Ela reúne os filhos em torno de si na véspera do sábado para ouvirem-na pronunciar a bênção das velas, prepara a casa para cada festa e para os Grandes Dias Santos e cria um ambiente de jubilosa expectativa.

Nas velhas comunidades judaicas, a educação das crianças até a idade de seis anos cabia às mulheres, a fim de que, naquele período impressionável, pudessem ensinar a seus pequerruchos os valores eternos. Mais importante, porém, era o tradicional papel de conselheiro da família inteira, desempenhado pela esposa e pela mãe. Diz o Talmud: "Não importa a pequena estatura de tua mulher, inclina-te e pede-lhe conselho".

CAPÍTULO 15

AS LEIS ALIMENTARES E SUAS BASES

Um alimento proibido é trefá, "impróprio". A designação kôsher (ou kashér) empregada em relação a um alimento indica ser este ritualmente correto; usa-se para qualificar não apenas alimentos como também qualquer objeto que preencha os requisitos rituais.

Originariamente, a palavra trefá significa que a carne era obtida causando-se sofrimento a um animal. Até a carne de animais que causam dor a outros é proibida; nenhum animal carnívoro é kosher. A carne proveniente da caçada esportiva constitui também tabu, pois o Judaísmo proíbe a matança pelo prazer do esporte.

Os judeus que hoje observam as leis dietéticas não encontram dificuldades nem se sentem prejudicados. Eles consideram as práticas kosher símbolo de sua herança distintiva, uma lição cotidiana de auto-disciplina e um lembrete constante de que o humano deve sentir piedade por todas as coisas vivas.

O termo kosher aplica-se a várias situações. Normalmente, qualquer coisa concordante com a Lei Judaica é kosher. Em inglês americano, mesmo não Judeus utilizam este termo. É comum se ouvir em filmes este termo ou seu oposto “non-kosher” ou “not-kosher” como sinônimo de algo reprovável.

Animais kosher são os que têm cascos (patas) fendidos e ruminam: boi, carneiro, cabrito, girafa. O porco, coelho, camelo, capivara, etc, não são kosher.

Para a carne de um animal ser, de fato, kosher, ela deve ter sido obtida através de um processo próprio de matança denominado : shehitá. Quem faz isso é um especialista chamado shohêt. O animal deve ser morto através do processo de degola (corte da veia jugular) e seu sangue totalmente esvaído através de lavagem sucessivas intercaladas por contacto e ação do sal (Cloreto de Sódio) .

O boi não é todo kosher. Somente a parte dianteira o é. A traseira apresenta problemas relacionados a nervuras e ramificações do nervo ciático.

Todos os derivados secundários de carne devem ser de animais kosher para que também o sejam. Assim, os frios, as vísceras comestíveis, os caldos, gordura, etc.

Nem todas as aves são kosher. O frango é. A codorna não é. É preciso saber, em cada região, quais são as aves kosher ou não com um rabino especializado. Mesmo assim, para estarem de acordo com a Lei, precisam ser abatidas e verificadas pelo rabino.

Os peixes kosher são todos os que possuem escamas. No entanto, devem ser bem verificados.

Nenhum réptil ou anfíbio é kosher.

Os produtos de um anima kosher também o são. Ovos serão kosher se não contiverem uma manchinha vermelha sobre a gema. Por isso, precisam ser cuidadosamente verificados antes de usados.

Caldos de galinha e de carne serão kosher se extraídos de animais abatidos de acordo com a Lei.

O leite de vaca, cabra ou ovelha, para serem kosher, devem ter sido ordenhados sob a supervisão de um Judeu. Os derivados de laticínios serão kosher se supervisionados por um rabino.

O vinho é kosher se contiver o selo de comprovação emitido pelo rabino que o supervisionou. Isso é uma exigência até os dias de hoje devido a que na antiguidade o vinho era oferecido aos deuses desde a vindima da uva. Por questões rituais, o Judeu observante não bebrá um vinho que não seja kosher.

Os Judeus praticantes não dividem vinho com um gentio. Isto se deve ao fato de ser o vinho um elemento importante em cerimônias religiosas, tanto as nossas quanto as dos gentios que praticam idolatria e o gentio poderá estar-se dirigindo aos seus deuses (mesmo que apenas em pensamento), enquanto bebe.

Hoje em dia, vários alimentos vêm com uma letra U ou letra K dentro de um círculo preto impressa na embalagem. Estes alimentos são apropriados para o consumo de Judeus ortodoxos, são kosher.

É importantíssimo observar que CARNE DE PORCO nunca deve ser oferecida a um Judeu. Da mesma forma qualquer alimento que combine leite e carne. Não se servem laticínios e carnes numa mesma refeição, jamais.

CAPÍTULO 16

POR QUÊ OS JUDEUS PRATICAM A CIRCUNCISÃO ?

Brit-Milá, a circuncisão da criança do sexo masculino no oitavo dia de seu nascimento, é o mais antigo rito da religião judaica(8). Era praticado pelos patriarcas desde antes da existência das leis de Moisés e se acha tão indelevelmente gravado na tradição que nenhuma transferência é permitida, nem por causa do sábado nem pelo Dia da Expiação. A cerimônia pode ser postergada quando a saúde da criança não a permite.

Alguns estudiosos explicam a exigência como uma medida sanitária e a moderna ciência médica deu apoio a essa teoria aconselhando a circuncisão como processo rotineiro na maioria das maternidades dos Estados Unidos.

O Judaísmo, porém, considera o rito da circuncisão um símbolo exterior que liga o menino à sua . Não é um sacramento que o introduz no Judaísmo; essa introdução é operada pelo nascimento. A circuncisão confirma a condição da criança e representa um emblema de lealdade à israelita.

CAPÍTULO 17

O QUE SÃO O BAR-MITSVÁ E O BAT-MITSVÁ ?

Um menino que completa o seu décimo terceiro aniversário é um Bar Mitsvá - literalmente, um homem do dever. Desse dia em diante, conforme a tradição judaica, é ele responsável por seus próprios atos e por todos os deveres religiosos de um homem.

No sábado posterior ao décimo terceiro aniversário de um menino judeu, ele é chamado ao altar da sinagoga para ler a Torá. O jovem repete a bênção, depois que um trecho da Torá é lido, e recita a lição dos Profetas, denominada Haftará.

A menina, por sua vez, é considerada maior de idade no Judaísmo na data em que completa doze anos. É desnecessário considerar os fatos que tornam a mulher responsável muito antes do homem. A cerimônia em que é introduzida na responsabilidade da Judaica chama-se Bat Mitsvá .

CAPÍTULO 18

O QUE É A TORÁ ?

A palavra Torá tem dois sentidos na tradição judaica. No sentido lato, é a Torá o nosso modo de viver, ou, conforme disse Isaac Shapiro, meu pai,: "Toda a vastidão e variedade da tradição judaica". É sinônimo de ciência, sabedoria, amor a Deus. Sem ela, a vida não tem sentido nem valor.

Em senso mais estrito, a Torá é o mais reverenciado e sagrado objeto do ritual judaico, o belo rôlo manuscrito dos Cinco Livros de Moisés (a Bíblia, do Gênesis até o Deuteronômio) que se conserva na Arca da Sinagoga.

Uma parte da Torá, iniciando-se com o livro do Gênesis, é lida em voz alta todo sábado durante o culto, logo a partir dos Grandes Dias Santos, prosseguindo até o fim do ano judaico, até que tenha sido lida. O fiel mantém-se de quando a Torá é retirada da Arca. Um judeu piedoso beija a Torá colocando seu xale de orações sobre o pergaminho (assim os dedos não tocam o rôlo) e erguendo então aos lábios as franjas do xale.

CAPÍTULO 19

O QUE É O TALMUD ?

O Talmud consiste em sessenta e três tratados de assuntos legais, éticos e históricos, escritos pelos antigos rabis. Foi publicado no ano de 499 D.E.C., nas academias religiosas da Babilônia, onde vivia a maior parte dos judeus daquela época. É uma compilação de leis e de erudição, e durante séculos foi o mais importante compêndio das escolas judias. O Judaísmo ortodoxo baseia suas leis geralmente nas decisões encontradas no Talmud.

Parte considerável dessa obra enciclopédica oferece interesse a estudiosos profundos da lei. Mas o Talmud é muito mais do que uma série de tratados legais. Intercalados nas discussões dos eruditosmilhares de parábolas, esboços biográficos, anedotas humorísticas e epigramas que fornecem uma visão íntima da vida judaica nos dias que antecederam e seguiram de perto a destruição do Estado judeu. É um reservatório de sabedoria tão valioso hoje quanto o foi há mil e oitocentos anos.

Os mesmos sábios rabis que nos deram o Talmud, compilaram também o Midrash, coleção de comentários rabínicos sobre os ensinamentos morais da Bíblia, freqüentemente citados em sermões e na literatura judaica. Em torno de cada verso das Escrituras, os eruditos teceram considerações morais, muitas vezes em forma de parábola. Os rabis estudaram a Bíblia com a convicção de que toda a verdade estava encerrada em suas páginas, bastando lê-la para desvendar-lhe o opulento acervo de sabedoria.

CAPÍTULO 20

FESTAS E JEJUNS

Os dias consagrados do ano judaico são, em grande parte, uma questão de atmosfera-ambiente - um sentimento criado e até mesmo inventado para estabelecer um estado de espírito que empreste a cada dia festivo ou solene o seu caráter específico.

De fato, cada dia santo representou uma estação, mais do que um dia particular ou um conjunto de dias. Pêssach, a páscoa Judaica (explicaremos adiante o seu significado bem como o de todos as demais Festas) principia, em certo sentido, no dia seguinte ao Purim - um mês antes da festa propriamente dita. É esta a estação da purificação da primavera, mas que representa mais do que o adeus anual ao inverno. A mãe, ocupada com suas tarefas domésticas, bem sabe que "antes de darmos por isso, o Pêssach terá chegado". Há um sentimento de expectativa que é transmitido a toda a família e cresce durante o mês inteiro.

Observe-se que os dias santos judaicos são mais do que meras comemorações. Constituem outras tantas lições sobre os mais importantes ideais judaicos: o agradecimento a Deus, a liberdade, o estudo e a sabedoria, o sacrifício, o arrependimento. Os dias santos põem em evidência tais valores e dão-lhes substância, especialmente para os jovens.

É sempre difícil fazer aceitar valores abstratos. O amor ao estudo é transmitido à criança mais claramente por meio do aparato da procissão da Torá, na festa de Simhat-Torá, do que seria possível numa lição em aula, porquanto desta forma ela aprende, ainda que em tenra idade, que os ensinamentos da Bíblia são sagrados para a sua família e o grupo dos que a cercam, e constituem preciosos objetos de amor.

O Jejum tem três propósitos distintos na judaica: auto-renúncia, luto e súplica.

Além do Iom Quipur, diversos jejuns menores são observados pelos ortodoxos, o mais importante dos quais é o Dia das Lamentações, Tisha B'av, em agosto, que comemora a destruição de ambos os Templos de Jerusalém. O período de jejum é geralmente de vinte e quatro horas, desde o pôr do sol de um dia até o do dia seguinte.

O jejum do Dia da Expiação (Iom Quipur) é símbolo da aptidão do homem para vencer seus apetites físicos, numa demonstração feita a Deus de que ele é capaz de renegar o desejo natural de alimentos e bebidas e que também tentará dominar todos os seus anelos egoístas.

Como sinal de luto, o jejum exprime tristeza coletiva ou pesar individual. O jejum da Lamentação relembra aos judeus a destruição da antiga pátria. O judeu ortodoxo também se abstém de todo alimento e bebida no aniversário da morte de um dos pais.

Embora o ascetismo seja em geral mal visto pelo Judaísmo, os judeus muito piedosos costumam jejuar em numerosas ocasiões através do ano inteiro, particularmente às segundas e quintas-feiras, quando preces especiais de penitência são recitadas.

CAPÍTULO 21

O QUE SIGNIFICA O SÁBADO PARA O POVO JUDEU ?

O Sábado(9) é a instituição maior da religião Judaica.

Seria possível a um historiador escrever duas histórias dos judeus, cada qual oferecendo pouca semelhança com a outra. A história exterior, isto é, como se houveram social e politicamente através dos tempos, numa crônica, um tanto sinistra, de perseguições, expulsão e dispersão. Mas a história espiritual dos judeus - a força que conseguiram haurir do seu ambiente - essa é outra história. De certo modo lograram criar uma vida que lhes deu não apenas satisfação espiritual e a determinação de continuarem como um grupo, mas também uma sensação de bem-estar no meio de um mundo perturbado.

O sábado, sem dúvida, se encontra no âmago desse mundo íntimo de paz e serenidade. "Mais do que Israel guarda o sábado - diz o ditado - o sábado guarda Israel". Com efeito, a história espiritual judia não passa de uma série de dias de semana empregados nos preparativos para o sábado.

O sábado é um período para repouso espiritual, e para um intervalo na monótona rotina do labor cotidiano. Serve para recordar que a necessidade de ganhar a vida não nos deve tornar cegos ante a necessidade de viver.

É também um dia da família, feito para reminiscências. Os filhos crescidos e casados reúnem-se ao círculo de sua família; avós, pais e a meninada partilham do sentimento de unidade, enquanto os filhos inclinam as cabeças e o pai repete a bênção: "Que o Senhor te abençoe e guarde neste dia de sábado". É um dia com toda espécie de brilhantes comemorações: alimentos especiais, pães trançados, vinhos doces para a bênção, toalha de mesa alva e limpa, bruxuleantes velas brandas, a melhor louça e prataria, flores num vaso polido, moços e velhos paramentados com suas melhores roupas.

CAPÍTULO 22

O ROSH HASHANÁ

É o nome hebraico do Ano Novo. Representa um dos dois dias santos mais sagrados da judaica e dá início aos "Dez Dias de Penitência" quando "a humanidade se submete a julgamento perante o trono celestial". Durante esse período, afirma a tradição, Deus perscruta os corações dos homens e examina os motivos de seus atos. É também o período em que os judeus se julgam a si mesmos, comparando seu procedimento durante o ano findo com as resoluções tomadas e as esperanças que haviam acalentado.

Na moderna Israel celebra-se o Rosh-Hashaná somente um único dia; os ortodoxos continuam a observar dois dias igualmente santificados, conforme o costume mantido desde o primeiro século.

A exemplo de quase todos os demais dias santos do Judaísmo, as observâncias do Rosh-Hashaná incluem certa mistura de solenidade e festividade. O Novo Ano é uma época para reunião da clã, quando tanto os jovens como os anciãos voltam ao lar. O esplendor de seu ritual cria laços emocionais com o Judaísmo até nas crianças pequenas demais para compreender e apreciar plenamente a ética da ; nos anos seguintes a mente reforça esses laços do espírito e do coração.

O símbolo mais relevante das práticas do Rosh-Hashaná é o shôfar, ou chifre de carneiro, que se faz soar durante o culto do Ano Novo e em cada um dos dez dias de penitência. Em tempos idos, o shôfar era instrumento de comunicação. Nas colinas da Judéia era possível alcançar todo o país em poucos momentos por meio de apelos de shofar, correndo do cume de um monte para outro. Nos ofícios do Rosh-Hashaná, o shôfar é o chamado para a adoração. Conclama os fiéis a se arrependerem de suas faltas do ano decorrido; a voltarem a Deus com o espírito contrito e humilde e a distinguirem entre o trivial e o importante na vida, de modo que os doze meses seguintes possam ser mais ricos de serviços a Deus e aos homens.


CAPÍTULO 23

O IOM QUIPÚR

O Iom-Quipur é o Dia da Expiação, o último dos "Dez Dias de Penitência", e, tal como Rosh-Hashaná, um dos dois Grandes Dias Santificados. É marcado por vinte e quatro horas de orações e jejum. Quando o sol principia a morrer na véspera da Expiação, a família se reúne para uma refeição festiva. Acendem-se velas, todos pedem perdão uns aos outros pelos agravos cometidos; os filhos aos pais, os pais aos filhos, o marido à mulher e vice-versa, pois se deve ingressar no dia sagrado de alma limpa.

O branco, símbolo da pureza, é a cor dominante do Iom-Quipur. Os panos do altar e a cobertura da Torá na sinagoga, castanhos aos sábados e azuis nos dias de festa, são substituídos por brancos. O rabi e o "cantor" trajam vestes brancas, e em algumas congregações conservadoras todos os homens usam solidéus brancos.

O cântico do Kol Nidrei, dirigido pelo "cantor", é o prelúdio ao Dia da Expiação e se recita imediatamente antes do pôr do sol. É uma prece pela absolvição, pedindo a Deus que nos livre dos votos feitos, mas não cumpridos. Trata-se unicamente das promessas do homem a Deus, e não das do homem ao seu semelhante. Nem todas as preces do Iom-Quipur podem absolver um homem dos pecados contra seu próximo; este, inclinado ao perdão, é capaz de fazê-lo.

O estribilho constante do dia é a oração: "Pai, pecamos diante de Ti", e o oficiante desfia o tradicional catálogo de pecados, negligências e transgressões que cobrem a vasta gama das faltas humanas.

A confissão do Iom-Quipur é recitada deliberadamente na primeira pessoa do plural, e não do singular, nós em vez de eu. Há, naturalmente, pecados individuais, mas também existe a aceitação da responsabilidade coletiva pelas deficiências da humanidade. No Iom-Quipur cada um de nós partilha do peso da culpa dos outros.

Mas por mais solene que possa ser o dia, no Iom-Quipur aindaum elemento de alegria - a alegria proveniente da idéia do perdão. Acreditamos que "Deus está perto dos aflitos", e que, segundo as palavras do ritual do Iom-Quipur, "Tu não desejas a morte do mau, e sim que ele saia de seu pecado, e viva". Por conseguinte, o judeu piedoso confia implicitamente na Sua misericórdia e perdão.

CAPÍTULO 24

A FESTA DE SUCOT

"Sucot" é a Festa dos Tabernáculos ou Festa das Tendas, que se inicia cinco dias após o IOM QUIPUR, e continua por oito dias. É um festejo de colheitas para dar graças a Deus - uma lembrança da celebração na antiga Palestina, quando as colheitas haviam sido feitas e se aproximava a estação chuvosa.

A festa é um acontecimento alegre e feliz, cheio de símbolos ricos e coloridos, e especialmente atraente para as crianças, às quais obviamente se destina.

Ergue-se uma tenda ou cabana (sucá) junto à casa. Em geral é uma estrutura improvisada, de tábuas de madeira, com teto de folhas e ramos. O teto não deve ser compacto, pois os que se acham dentro da sucá devem poder ver o céu o tempo todo. A construção de uma tenda é prescrita na Bíblia como eterna lembrança das habitações precárias utilizadas pelos israelitas em seus quarenta anos de peregrinação através do deserto. O interior da sucá é alegremente decorado com frutas da estação outonal, e mobiliado com mesa e cadeiras. Durante a semana de Sucot a refeição familiar é servida na sucá.

Dois outros símbolos marcam a festa de Sucot: o etrôg, uma cidra, a fruta parente do limão, e o Lulav, um ramo de palmeira amarrado com mirto e salgueiros. Cada planta tem o seu significado simbólico, mas, como a sucá, recordam essencialmente a nossa dependência do solo e nossas obrigações para com Aquele que faz a terra entregar suas dádivas.

CAPÍTULO 25

SIM´HÁT TORÁ

Celebra-se o festejo de Sim´hat-Torá ao findar Sucot, e é dedicado à glorificação da Torá. Nesse dia é que se completa o ciclo anual das leituras semanais dos Cinco Livros de Moisés e a sinagoga principia de novo a leitura da Torá.

Em Sim´hat-Torá os fiéis lêem os últimos capítulos do Livro do Deuteronômio e, imediatamente depois, o primeiro capítulo do Gênesis, simbolizando com isso a eterna continuidade do Judaísmo. A Torá, sempiterna, não tem pois início, nem fim.

A despeito da solenidade deste simbolismo, a festa de Sim´hat-Torá tornou-se o dia mais alegre do ano. É época de banquetes e, entre os Judeus ortodoxos, ocasião de danças exuberantes.

CAPÍTULO 26

HANUCÁ

Hanucá, ou "Festa das Luzes", é celebrada em novembro/ dezembro, por um período de oito dias, e comemora a vitória de Israel na primeira batalha pela liberdade religiosa de quememória.

A sua história é a dos Macabeus que, em 168 A.C., comandaram um pequeno e inspirado exército de judeus contra o poder esmagador de seus opressores sírios numa luta de morte pelo direito de adorar a Deus à própria maneira tradicional. É uma história de bravura que encheu de justificável orgulho muitas gerações de judeus. Todavia, a tradição judaica hesitou em transformar um triunfo militar numa celebração religiosa. Pois embora a Bíblia considerasse justas algumas guerras, não permitia associar ao culto o derramamento de sangue humano. Ao rei David, um dos maiores heróis do Judaísmo, não foi permitido construir o Templo, porque sua vida fôra dedicada aos feitos guerreiros.

O simbolismo desta festa é completamente devotado a referências militares. As velas são acesas durante oito noites consecutivas por qualquer um dos pais (algumas famílias permitem às crianças terem a sua vez) num candelabro especialmente projetado para a Festa. Acende-se uma vela na primeira noite, duas na segunda, e assim por diante até que todas as oito se acendam, Uma vela adicional, denominada shamash, é acesa ao mesmo tempo, a fim de ser usada para acender as outras. Em tempos idos sugeriu-se que a ordem fosse invertida: oito velas acesas na primeira noite, sete na segunda, etc. Mas os Rabis da Escola de Hilel se apegaram ao processo que agora se fixou, para refletir a de Israel num futuro mais brilhante.

A vela extra também foi dotada de um significado especial. A chama se entrega para criar uma chama adicional sem nada perder do seu próprio fulgor. Assim o homem dá de seu amor aos seus semelhantes sem nada perder de si.

CAPÍTULO 27

PURIM

Purim é a festa carnavalesca da vida judaica, um dia despreocupado, de regozijo pelos acontecimentos assombrosos registrados no livro de Ester.

Em fevereiro ou março de cada ano, o Purim evoca a trama de Haman para destruir os judeus da Pérsia e a bravura da rainha Ester, assim como a sabedoria de Mordecai que, juntos, salvaram da morte o seu povo.

É um período para festas a fantasia, costume tomado de empréstimo aos vizinhos cristãos que celebram seus folguedos de Momo pouco mais ou menos na mesma época. A idéia do carnaval, propriamente, não é cristã nem judia, mas remonta a qualquer antiga celebração primitiva da primavera.

A comemoração do Purim tem sido uma espécie de válvula de escape para os que sofrem sob o jugo da perseguição. Reúnem-se na sinagoga na véspera do Purim e ouvem as dramáticas ocorrências narradas na meguilá (rolo) de Ester. Sempre que se menciona o nome de Hamã, as crianças fazem uma barulheira com instrumentos ruidosos para expressar seu repúdio ao vilão. Após a leitura, servem-se doces, trocam-se presentes e fazem-se dádivas aos pobres.

CAPÍTULO 28

O PÊSSACH

Páscoa, ou Péssach, conforme se chama em hebraico, é a principal festa doméstica na vida judaica. É a Festa da Liberdade, comemorativa da libertação de Israel da servidão egípcia.

Os rituais da Páscoa são, em grande parte, cerimônias do lar. Na véspera de se iniciar a comemoração, a casa é examinada dos alicerces até o sótão à procura de algum sinal de pão lêvedo ou de qualquer alimento que contenha fermento, e todos os traços de fermento são removidos. Por uma semana, matzot (pães ázimos), e panquecas e pudins feitos de ingredientes não-fermentados, substituem no cardápio todas as formas de pão.

O ponto culminante da celebração da Páscoa consiste em servir-se o Seder, um banquete de família realizado na primeira e na segunda noites pascoais, com ritual complicado. A mesa é decorada com frutas e flores, a melhor louça, candelabros e outros indícios de festa. Para os quatro goles de vinho - símbolo da alegria - coloca-se uma taça ao lado de cada lugar.

A cerimônia consiste essencialmente em contar a história do Êxodo, utilizando vários símbolos para ilustrá-la e dramatizá-la. A criança mais nova sentada à mesa faz quatro perguntas ao pai (Veja "Má Nishtaná"na nota nº 10, no final deste trabalho). A história que o pai relata, lendo um livro chamado Hagadá, é a narrativa familiar da escravidão no Egito, a obstinada recusa do faraó em deixar os israelitas partirem, a corajosa chefia de Moisés e o milagre da redenção.

Cada um dos diversos componentes da refeição contém uma lição: o ovo cozido é símbolo da existência, a otimista afirmação de Israel da santidade da vida. É mergulhado em água salgada para se manifestar solidariedade com o destino amargo dos antepassados. Certa mistura de nozes e maçãs recorda à família a argamassa usada pelos hebreus escravos na construção de cidades para seus cruéis faraós.

Impõe o costume que se convidem hóspedes para a mesa familiar. Além dos amigos, um estudante que esteja longe do lar, um soldado ou um viajante afastado dos seus, serão bem-vindos.

Comemora-se a festa com um ofício especial na sinagoga: da Torá, lê-se uma vez mais a narrativa do Êxodo, e entoam-se os Halel, salmos de louvor.

Compreende-se que ao moderno Estado de Israel a festa de Péssach seja especialmente cara. Centenas de milhares de seus cidadãos reviveram a escravidão egípcia em campos de concentração e em asilos de deslocados. A nova Terra da Promissão, no próprio solo da antiga, é uma realidade que empresta pungência e júbilo à celebração israelense da Festa da Libertação.


CAPÍTULO 29

SHAVUOT

Shavuot é a Festa das Semanas, ou Pentecostes, que se celebra em fins de maio ou princípios de junho, exatamente sete semanas após a Páscoa. Ao contrário das outras festas principais, é observada apenas durante dois dias.

Originariamente, Shavuot era um festejo agrícola, a "Festa das Primícias". Mas com o decorrer dos anos adquiriu outro significado, o de aniversário da outorga da Lei.

O livro do Êxodo é lido no Shavuot, inclusive o capítulo que contém os Dez Mandamentos. O tema geral desse dia é o nosso tradicional amor ao estudo. O Livro de Ruth, a deliciosa história da dedicação de uma jovem Moabita à que adotou, também se na sinagoga durante a Festa das Semanas.

CAPÍTULO 30

JUDAÍSMO E CRISTIANISMODIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

Cristãos e judeus partilham a mesma opulenta herança do Antigo Testamento, com suas verdades eternas e seus valores imutáveis. Partilham sua crença na paternidade de um Deus, Onisciente, Todo-Poderoso e sempre Misericordioso. Compartilham sua na santidade dos Dez Mandamentos, na sabedoria dos profetas e na fraternidade humana. O núcleo de ambas as religiões é a firme crença no espírito humano; a busca da paz e o ódio à guerra; o ideal democrático como guia da ordem política e social; e, acima de tudo, a natureza imperecível da alma do homem.

Tanto cristãos quanto judeus acreditam que o homem foi posto no mundo para um fim - que a vida é muito mais do que "um brilhante interlúdio entre dois nadas". O alvo social da Cristandade e do Judaísmo é também um único: um mundo motivado pelo amor, pela compreensão e pela tolerância aos semelhantes.

São esses os pontos básicos de concordância - o vasto campo comum do Judaísmo e do Cristianismo que forma a herança judaico-cristã, porquanto as raízes do Cristianismo se entranham profundamente no solo do Judaísmo, no Velho Testamento e na Lei Moral. E a herança comum de ambas as fés lançou os alicerces de grande parte do que conhecemos por civilização ocidental.

Mas existem, naturalmente, vários pontos distintos entre as duas religiões. Os judeus reconhecem a Jesus como um filho de Deus no sentido de que somos todos filhos de Deus, pois os antigos rabis nos ensinaram que uma das maiores dádivas de Deus ao homem é o conhecimento de sermos feitos à Sua imagem. Mas não aceitam a sua divindade ou que seja o Messias prometido.

Os judeus também rejeitam o princípio da encarnação de Deus feito carne. Constitui dogma cardeal de sua que Deus é Deus, não sendo carne, nem espírito, não sendo físico e não possuindo qualquer atributo de qualquer uma das obras que tenha criado.

Ninguém, acreditam eles, pode servir de intermediário entre o homem e Deus, nem mesmo num sentido simbólico. Nós nos aproximamos de Deuscada homem à sua maneira pessoalsem um mediador(11).

O Judaísmo difere também do Cristianismo na doutrina do pecado original, não interpretando a história de Adão e Eva como a perda da graça pelo homem, e não procurando tirar da alegoria do Jardim do Éden quaisquer lições ou regras sobre a natureza humana.

CAPÍTULO 31

OS JUDEUS SÃO PROIBIDOS DE LER O NOVO TESTAMENTO ?

A frase "proibidos de ler" é inteiramente estranha ao Judaísmo. Nenhuma autoridade ousaria sugerir que um ente humano amadurecido fosse "proibido de ler" qualquer coisa, mesmo por quê, no caso dos Judeus, de nada adiantaria. Os Judeus são chamados O POVO DO LIVRO dado seu grande apego aos livros, além de ter se identifico como nação através de um livro: a Bíblia. Há um dito popular Judaico que diz: “ Quando um Judeu não pode comprar um livro, ele escreve um” .

Nunca houve, por certo, nenhuma interdição da leitura dos Evangelhos ou de outros escritos cristãos.

Todavia, a sinagoga não se empenha em recomendar a leitura do Novo Testamento, que ele não tem conotação religiosa dentro da vida judaica, nem se ouvirá do púlpito de uma sinagoga ortodoxa uma citação dos Evangelhos, pela mesma razão.

CAPÍTULO 32

OS JUDEUS PROCURAM A CONVERSÃO DOS GENTIOS?

O Judaísmo não é um credo religioso empenhado em proselitismo, embora tenha havido em tempos passados conversões de grande número de pessoas.

Durante os últimos mil anos, porém, eles, na maioria, se dedicaram mais a preservar a sua herança do que a aumentar o seu número por meio de conversões. De fato, prováveis candidatos à conversão eram, amiúde, desencorajados pelos rabis que lhes assinalaram o vulto das exigências da religião judaica e que o fardo de ser judeu num mundo intolerante não era fácil de suportar. Entretanto, através de toda a história, sempre se registraram conversões ao Judaísmo e hoje em dia não são de todo raras.

CAPÍTULO 33

POR QUÊ OS JUDEUS DESACONSELHAM OS CASAMENTOS MISTOS?

Os judeus religiosos desaconselham o casamento misto pelas mesmas razões dos devotos de todos os credos. Diferenças de religião entre marido e mulher opõem um obstáculo sério a relações verdadeiramente harmoniosas. Tais casamentos, ainda que perdurem, impõem um penoso e constante esforço à lealdade religiosa de ambos os cônjuges e suscitam problemas familiares de difícil solução.

Um matrimônio feliz deve basear-se na unidade de espírito. Quando marido e mulher discordam num ponto tão crucial como o seu credo religioso, as probabilidades de relações duráveis e satisfatórias são muito pequenas. E os filhos de tais consórcios ficam sujeitos ao grave conflito de terem de escolher entre as mais profundas convicções das duas pessoas que lhe são as mais caras do mundo.

CAPÍTULO 34

AS CERIMÔNIAS NAS SINAGOGAS SÃO EXCLUSIVAS PARA JUDEUS ?

Existe entre os não-judeus uma noção mais ou menos generalizada de que a sinagoga é um lugar de mistério - exclusivo e inacessível a todos que não sejam fiéis. Tal suposição, na verdade, é completamente insustentável.

Qualquer pessoa pode entrar numa sinagoga e a qualquer tempo. Em muitas casas de oração judaicas, estão inscritas sobre os altares as palavras de Isaías: "A minha Casa será uma Casa de Oração para todos os povos".

Até mesmo orações genuinamente judaicas, o Kadish dos lamentos fúnebres, por exemplo, tocam uma corda sensível nos homens de todas as crenças: "Que o Pai da paz envie paz a todos que choram, e conforme os deserdados da sorte que vivem entre nós".

Ninguém, seja qual for o seu credo, precisa hesitar em penetrar numa sinagoga ou templo, para observar, estudar, meditar - ou, se assim quiser, para rezar desde que, ao entrar, cubra sua cabeça – seja com um chapéu, uma kipá ou até mesmo um boné de um time de futebol.

CAPÍTULO 35

O ESTADO DE ISRAEL É UMA TEOCRACIA ?

O moderno Estado de Israel não é uma teocracia, pois não é governado pelo rabinato de Jerusalém ou por quaisquer outros líderes religiosos. Seu governo é democraticamente eleito por todos os cidadãos, inclusive não-judeus, e representa a vontade política da população.(12)

Todo o sistema jurídico-hebreu do Novo Estado é de caráter secular, com exceção das leis que regem as relações de família e que seguem os preceitos religiosos.

Pelo fato de a esmagadora maioria dos cidadãos israelenses ser formada por judeus, a comemoração do sábado e das festividades faz parte integrante da vida comunitária, mas cada um tem a liberdade de respeitá-los da maneira que lhe apraz.

Nãoteste religioso para os postos oficiais. O primeiro ministro ou qualquer membro de gabinete pode ou não ser freqüentador de sinagoga. Diversos deputados do Knêsset (Parlamento) são árabes.

CAPÍTULO 36

O QUE SÃO JUDEUS SEFARADIM E ASHQUENAZIM ?

Estes são os dois setores que formam o total do conglomerado judeu do mundo: ashquenazim e sefaradim. "Que significam os termos ashquenazi e sefaradi? Quando começou a cisão? Por quê razões começou? Como poderia chegar-se a uma junção entre os dois grupos? etc... etc...".

1. - Ashquenazi: deriva do termo bíblico "ashquenaz" (Gênesis, X 3), termo aplicado à Alemanha na Idade Média; é pois um adjetivo gentílico que se traduz por "alemão", seu plural hebraico é ashquenazim ou alemães, título dado ao setor representativo dos judeus da Alemanha e da Europa Oriental, setor que na Idade Média estava representado pelos rabinos destes países.

2. - Sefaradi: deriva do termo bíblico "sefarad" (Obádia 1, 20), identificado como Espanha, o que prova que os profetas do exílio tinham conhecimento de que um grande contingente de judeus expatriados por motivo da queda de Jerusalém havia se estabelecido na Espanha. O plural de sefaradi ou espanhol é sefaradim (espanhóis). Depois da expulsão da Espanha e Portugal, estes sefaradim dispersaram-se pela Turquia, Holanda, Itália, norte da África, países árabes, etc.


CAPÍTULO 37

O QUE É UM JUDEU HASSID ?

Desde o princípio houve duas correntes no seio do judaísmo: de um lado o formalismo ritual da Bíblia e o Talmud e do outro, a tendência ao misticismo, ao ocultismo que criou a Cabalá e o Zohar as duas principais obras da mística Judaica. Daí a oposição entre fariseus e essênios na época do Talmud e entre talmudistas e cabalistas na Idade Média.

O formalismo ritual, tão rigorosamente praticado pelas massas do povo na Europa Oriental entre os séculos XVII e XVIII, tendia fatalmente a produzir uma reação e daí nasceu o Hassidismo, isto é, o sistema de "hassid", que em hebraico significa "pio, piedoso".

Foi fundado no ano de 1740 na Polônia pelo místico Israel ben Eliezer, conhecido pelo nome de Baal Shem Tov: "o senhor de bom nome".

O "Hassidismo", que começou por abandonar o formalismo ritual, despertou maior importância ao sentimento religioso que à prática. Proclamou a onipresença de Deus e por isso ordenou que a oração fosse feita com devoção psicológica e alegria especial, até chegar a um êxtase que permitia ao homem entrar em comunicação direta com a divindade. Tornou sua a opinião da Cabala, segundo a qual toda ação humana tem suas repercussões nas esferas do mundo divino e assim o homem pio e justo, o "Tsadik", o ser que chega a despojar-se de todo pensamento material e que vive nada mais que pelo espírito e para o espírito, pode ser suscetível de modificar o curso dos acontecimentos.

CAPÍTULO 38

É VERDADE QUE UM HOMEM NÃO DEVE ESTENDER A MÃO AO CUMPRIMENTAR UMA MULHER JUDIA E VICE-VERSA?

A mulher não deve ser tocada durante o período mensal de menstruação. Por este motivo, é correto evitar o constrangimento de forçá-la a não corresponder aos cumprimentos formais propostos no convívio social. Esta regra, no entanto, é observada por Judeus ortodoxos, ou seja, aqueles que praticam a religião em todos os seus aspectos e exigências.

Homens se cumprimentam normalmente e mulheres, igualmente entre si. não entre sexos opostos.

Quanto aos "tradicionais beijinhos brasileiros" somente é educado dá-los a quem se tem uma certa intimidade . A regra é também válida aqui no Brasil.

Via de regra, não se sabendo se a pessoa ou o casal é religioso, deve-se esperar a iniciativa deles em estender a mão ou manifestar qualquer outro tipo de saudação para que se corresponda.

Da mesma forma deve-se evitar deixar um homem e uma mulher não casados a sós num recinto fechado. Alguém deverá acompanhá-los para evitar desconforto.


CAPÍTULO 39

QUAIS OS PRINCIPAIS SÍMBOLOS JUDAICOS E O QUE SIGNIFICAM ?

1. A Bandeira de Israel


Em 1948, o Estado de Israel foi criado. A bandeira foi apresentada na ONU em 1949. A bandeira é azul e branca. As faixas azuis acima e abaixo da Estrela de David nos lembram o talit (manto de orações).

2. Hamsa


Na antiguidade era um talismã em forma de mão usado pelos fenícios, gregos e romanos, como um meio de afastar o mau-olhado.

Tornou-se um amuleto popular no norte da África e no Oriente Médio. Os judeus, convivendo com os povos árabes, incorporaram o costume. A Hamsa, não tem nenhum fundamento na lei judaica.


3. O Hino de Israel


HATIKVÁ

Kol od balevav penimá

Nefesh Iehudi omiá

Ulfaatei mizrach kadimá

Ain letzion tzofiá

Od lo avda tikvatenu

Hatikva bat shnot alpaim

Lihiot am chofshi beartzeinu

Eretz Tzion v'Yirushalaim

A ESPERANÇA

Enquanto dentro do coração

De cada alma judia palpitar

E na direção do oriente

Os olhos se dirigirem

Ainda não passou nossa esperança

Esperança que tem dois mil anos

De ser um povo livre em nossa terra

A Terra de Tzion e Jerusalém


4. Kipá - Solidéu


Cobrir a cabeça, nos faz lembrar da onipresença Divina, e conscientizamo-nos de que a humildade é a essência da religião.

Ninguém sabe quando e por que surgiu o costume do uso da Kipá. Por tempos, as autoridades religiosas não consideravam obrigatório o seu uso. Somente no século XIX, os judeus ortodoxos adotaram a kipá como símbolo da particularidade judaica, e fizeram do costume uma lei.


5. Menorah


A menorah é um candelabro com sete braços ao todo: uma haste central e três braços que saem de cada lado.

Era um dos objetos sagrados do Templo de Jerusalém. Quando o Templo foi destruído, a menorah tornou-se o principal símbolo artístico e decorativo da judaica. É um dos símbolos nacionais do povo judeu e da identidade de Israel.


6. Mezuzá


A mezuzá é uma caixa medindo, em geral, de 3 a 4 polegadas de comprimento, contendo um pedaço pequeno de pergaminho, no qual estão escritas passagens bíblicas que fazem parte do "shemá" (Oração da Unicidade de Deus).

A mezuzá deve ser afixada em todas as portas de uma casa - com exceção dos banheiros - o mais cedo possível, pois ela é um mandamento da Tora. É afixada no umbral direito da entrada do aposento em posição inclinada , no final do primeiro terço superior. Costuma-se beijá-la quando se sai ou entra em casa.

O significado mais profundo do seu simbolismo seria lembrar ao Judeu a unicidade de Deus e do mandamento de amá-Lo sobre todas as coisas.


7. O Muro Ocidental ou Muro das Lamentações


O Muro das Lamentações é o lugar mais sagrado e venerado pelo povo judeu por tratar-se único resquício do Templo Sagrado de Jerusalém, que foi destruído por Tito no ano 68 D.E.C


8. O Tatit ou Xale de Oração


Tem origem num dos mandamentos bíblicos contidos no livro dos Números, o qual ensina que o indivíduo deve usar franjas nos quatro cantos da roupa. O talit tem como objetivo lembrar do dever de observar fielmente todos os 613 mandamentos da Torá. O talit é em geral feito de linho, ou seda, com as franjas do mesmo material.


9. Os Tefilin ou Filactérios


Os tefilin são dois cubos de couro que contêm 4 pergaminhos com inscrições bíblicas. Um é atado ao braço e outro sobre a cabeça.

O cubo destinado à cabeça é amarrado na testa de forma a ficar perto do cérebro e o outro sobre o braço esquerdo com suas tiras estendendo-se até a mão esquerda a fim de ficar numa posição mais próxima do coração, significando o amor a Deus, com todo seu coração e com todos os seus pensamentos.

São colocados antes de iniciar as orações matutinas todos os dias. Há exceções, como no shabat e nos dias de festas.Os tefilin são um símbolo de dedicação pessoal a Deus e à Sua Tora.


10. Os Pergaminhos da Torá


São 5 rolos de pergaminhos feitos com couro de boi onde estão as inscrições dos 5 livros de Moisés – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

A escrita é feita em hebraico, por um escriba especializado que respeita rígidas regras herdadas desde os tempos de Moisés . Na sinagoga, os rolos da Lei são lidos todas os sábados, segundas e quintas-feiras. Se um único defeito for encontrado numa simples letra, todo o rolo torna-se impróprio e faz-se a restauração para enquadrar-se às regras de perfeição na escrita. Caso isso não seja possível, o rolo inteiro é, então, enterrado numa vala própria num cemitério israelita.


CAPÍTULO 40

COMO FUNCIONA O CALENDÁRIO JUDAICO?

O calendário judaico funciona na base de um dia de 24 horas e de um ano de doze meses. O dia inicia-se ao por-do-sol e termina ao por-do-sol seguinte.

O mês judaico basea-se na Lua, e tem 29 ou trinta dias de duração. No total, o ano judaico tem 353, 354 ou 355 dias que é bem menos do que um ano solar integral. Essa discrepância é solucionada acrescentando-se um mês inteiro de 29 dias, sete vezes a cada 19 anos. Para isso, acrescenta-se um dia extra ao mês que o precede . Assim, um ano bissexto Judaico tem um mês a mais e pode ter 383, 384 ou 385, dependendo do número de dias do ano precedente.

Para complicar ainda mais o calendário judaico, o "Rosh Hashana" (Ano-novo) nunca pode cair em domingo, quarta ou sexta-feira Se isso acontecesse, o Yom Kippur cairia na sexta ou no domingo, ou seja, antes ou depois do Shabat. Isto significaria que não seria possível preparar comida ou enterrar os mortos nesses dois dias, que todos as proibições que se aplicam ao Shabat, aplicam-se também ao Yom Kippur.

Os meses judaicos em ordem são: Tishrei, Cheshvan, Kislev, Tevet, Shvat, Adar, Nissan, Iyar, Sivan, Tammuz, Av e Elul.

A data do ano no calendário judaico – o corrente ano de 5763, por exemplo - assinala o número de anos que se passaram desde a criação do homem, no 6º. dia da criação, que os sábios judeus medievais, com base em dados bíblicos, calcularam ter ocorrido no ano de 3761 A.E.C. e apesar de tal dado não estar de acordo com a cosmologia moderna. É um conceito universal do judaísmo que seu calendário deveria basear-se em um evento cósmico e não apenas em um significado judaico.

calendario

CAPÍTULO 41

COMO O JUDAÍSMO ENCARA O SEXO?

No cristianismo, sexo e pecado estão intimamente ligados e o sexo é o mal necessário para a procriação da raça humana.

Para o Judaísmo, sexo não é considerado pecado e não é visto como sendo unicamente como um meio de procriação, e sim, também, um meio de se desfrutar o prazer.

No casamento, o sexo tem um papel fundamental. Primeiramente, o marido é obrigado a proporcionar à esposa uma vida sexual normal. Ao mesmo tempo, o homem nunca deve tentar obrigar a esposa a manter relações sexuais com ele numa ocasião em queodioso para ela” .

Segundo o Talmud, um homem jovem e vigoroso deve ter a esposa todas as noites, enquanto um homem que trabalha duro e é mal alimentado, deve tê-la apenas uma vez por semana. Porém, tais observações podem ou não ser levadas em conta.

Prossegue o Talmud dizendo que se um casal tem o costume de ter relações sexuais apenas em certas noites, e se algum dia a mulher se vestir de modo atraente ou de alguma forma insinuar que está procurando conforto, mesmo que não seja nos "dias certos", o homem deve procurar agradá-la. De um modo geral, estudiosos e religiosos acreditam que os maridos estão mais acostumados a manter relações com as esposas nas noites de sexta-feira, pois é a noite mais santa da semana e o sexo deve ser encarado como um prazer que produz santidade e alegria.

O sexo extraconjugal é proibido pela lei judaica e ele não é visto de modo tolerante. Contudo, ele é dividido em duas classificações: de um lado, o eventual entre solteiros; do outro, o adultério. Os homens judeus são forçados a se casarem cedo, para que não se desviem para o sexo extraconjugal. Do ponto de vista judaico, o sexo é algo importante demais para ser exercido fora da ampla estrutura que Deus nos deu, na Tora, que é a família.

Sobre o sexo entre solteiros, no caso de jovens, a família do rapaz passa por extrema vergonha se o rapaz se aproveitar da moça. O mesmo deveria ser capaz de abster-se, sabendo que o que ele fez era incorreto.

Com respeito ao adultério, é preciso ressaltar que a palavra "adultério", para o judaísmo refere-se exclusivamente às relação entre uma mulher casada e um homem que não seja seu marido e não às relações entre um homem casado e uma mulher que não seja sua esposa, a menos que a mulher também seja casada. O adultério é um dos mais terríveis pecados para os judeus. É comparado à idolatria.

Atualmente, certas seitas religiosas cristãs assumiram a atitude de que atos homossexuais entre adultos que aceitam essa atitude não constituem pecado e não devem ser condenados. Porém, isso é extremamente rejeitado pela religião Judaica. Em Israel o homossexualismo existe nas mesmas proporções que em qualquer país ocidental. Sob o ponto de vista religioso, porém, é ignorado no Talmud, embora outras ofensas sexuais contra as leis da Torá, como o adultério e o estupro, sejam amplamente examinadas. Isso se deve ao fato de que a opinião rabínica e erudita achava a incidência do homossexualismo muito baixa para ser debatida; o vendo como um fator insignificante na vida judaica.


CAPÍTULO 42

COMO O JUDEU VÊ O DINHEIRO E A RIQUEZA?

Quem é verdadeiramente rico ?

Rabbi Meir disse: Aquele que deriva prazer de sua riqueza.

Rabbi Tarfon disse: Aquele que tem cem vinhedos e cem campos, e cem empregados que trabalham neles.

Rabbi Akiva disse: Qualquer um que tem uma esposa cujos modos sejam agradáveis

Rabbi Yossi disse: Aquele que tem um toalete próximo de sua mesa.

Na totalidade dos ensinamentos rabínicos pode-se encontrar a defesa da tese da moderação sábia. Ambos os extremos - a austeridade e o hedonismo - são censurados como nocivos.

Nossos sábios nunca associaram nenhuma virtude à pobreza. Ao contrário. Está escrito: "Onde nãopão, não há Torah". Esta é uma máxima que demonstra que a carência de sustento é um obstáculo muito grande para se atingir o conhecimento daquilo que é essencial no cumprimento da vontade Divina.

Em outro lugar, está dito: "Pior é a pobreza na casa de um homem que cinqüenta pragas." . Os Rabinos percebem o valor do conforto na vida humana e dizem: "um lugar bonito, uma esposa bonita, móveis bonitos são meios que proporcionam ao homem uma boa mente" . A definição rabínica de um homem rico é: "aquele que deriva prazer de sua riqueza" .

Conta-se a história que, devido a sua crítica à administração romana na Palestina, Rabi Shimon bar Yochai teve que esconder-se para salvar sua vida. Ele e seu filho se fecharam numa caverna durante doze anos. Ouvindo que o rei morrera e o decreto de sua morte fora rescindido, ele saiu de seu esconderijo. Viu um homem arando e semeando a terra e exclamou: "abandonam a vida eterna e ocupam-se com vida coisas transitórias, sem nenhum valor". Onde quer que ele e seu filho voltassem os olhos, tudo para que eles olhavam logo se incendiavam. Haviam vivido uma profunda experiência mística naquele período. Agora não se conformavam com a labuta diária dos seres humanos comuns em busca do sustento, dedicando, ao final, tão pouco ou quase nada aos valores espirituais. Ambos haviam suplantado as mínimas e básicas necessidades do ser humano através do mais profundo relacionamento com o divino.

Foi então que uma voz dos céus dirigiu-se a eles, dizendo: "vocês deixaram aquela caverna para destruir meu mundo? Voltem para !!!" . Ficara explícito, agora, que a manutenção da ordem social tem a aprovação de Deus. Isso significa, portanto, que o homem tem todo o direito de gozar os frutos de seu trabalho como recompensa por seu esforço.

Porém, um grande cuidado há de ser tomado. Acumular riquezas para comprazer à luxúria, não está de acordo com a Sua vontade. "Quando Salomão erigiu o templo, ele disse ao Todo-Poderoso: 'Soberano do Universo, se um homem rogar-te por abundância e Tu souberes que abusará dela, não lhe conceda. Porém, se Tu vês um homem usar suas riquezas para o bem, concede sua petição, tal como ele Te pede' , pois, assim está dito: ' concede a cada homem conforme os seus próprios caminhos, porque Tu conheces o seu coração' "

Há uma abundância de significados na definição: "quem é rico? É aquele que se alegra com a sua porção, pois está dito: 'quando você come o trabalho das tuas mãos, você é feliz e estará feliz consigo mesmo' " . Dizem os rabinos que a expressão "você é feliz" refere-se à vida neste mundo, e "estará feliz consigo mesmo" refere-se à vida no mundo vindouro. . Isso cristaliza o ponto de vista dos rabinos a respeito do mundo material.

CAPÍTULO 43

POR QUÊ OS JUDEUS DÃO TANTA IMPORTÂNCIA À AJUDA MÚTUA?

Talvez a melhor resposta a esta pergunta seja através de uma parábola.

A um rabino muito justo foi permitido que visitasse o purgatório (em hebraico, chamado Guehinom) e o paraíso (GanEden).

Primeiramente foi levado ao purgatório, de onde provinham os gritos mais horrendos dos rostos mais angustiados que virá. Estavam todos sentados numa grande mesa. Sobre ela, se viam iguarias, comidas das mais deliciosas que se possa imaginar, com a prataria e a louça mais maravilhosa que jamais se vira. Não entendendo porque sofriam tanto, o rabino prestou mais atenção e viu que seus cotovelos estavam invertidos, de tal forma que não podiam dobrar os braços e levar aquelas delícias às suas bocas.

O rabino foi levado ao paraíso, onde se ouvia deliciosas gargalhadas e onde reinava um clima de festa. Porém, ao observar, para sua surpresa, encontrou o mesmo ambiente: todos sentados à mesma mesa que vira no purgatório, contendo as mesmas iguarias, as mesmas louças e os mesmos cotovelos invertidos.

Mas ali havia um detalhe muito especial: cada um levava a comida à boca do outro.

Ao bom entendedor, meia palavra basta.

CAPÍTULO 44

POR QUE OS JUDEUS FAZEM TANTAS PERGUNTAS?

Conta-se sobre um homem que queria entender o processo Talmúdico de análise ... então ele perguntou a seu rabino. O rabino respondeu com uma pergunta:

- "Se dois homens entram numa casa pela chaminé, um fica todo sujo de fuligem e o outro sai limpinho. Qual dos dois irá se lavar ?"

O homem respondeu:

- "O que está sujo, é lógico !"

- "Não !", respondeu o rabino. "O limpo irá ver o outro que está sujo, pensará que também está sujo e irá se lavar. O que está sujo presumirá que está limpo depois de ver que o outro que está limpo."

O homem alegremente exclamou:

- "Ah, agora eu entendo a análise Talmúdica !"

O rabino balançou sua cabeça negativamente e disse:

- " Não, você não entendeu. Se você tivesse entendido a análise Talmúdica, você teria perguntado: 'Como é possível que dois homens desceram por uma chaminé, um saiu sujo e o outro saiu limpo ?' "

Todos nós estamos sujeitos a aceitar informações como fatos sem nos perguntarmos como sabemos que aquilo é verdadeiro. Você ficou curioso sobre o velho adágio que "se fizer uma pergunta a um Judeu, ele responderá com outra pergunta ?" Por quê? Será isso verdade?

Se uma pessoa responde a uma pergunta diretamente significa que ela aceita as premissas sobre as quais a pergunta foi elaborada. Por exemplo: "Quando você parou de bater em sua esposa ?" Nesta situação, a pessoa questionada certamente irá fazer uma pergunta para obter maiores esclarecimentos é definitivamente a melhor resposta a esta questão !

Portanto, as lições para nós são:

1) Assegure-se de suas fontes de informação

2) Verifique as informações

3) Responda as perguntas com perguntas que as esclareçam

CAPÍTULO 45

OS JUDEUS MANTÊM ALGUMA PARTICULARIDADE NA APARÊNCIA PESSOAL ?

Sim. Normalmente os homens religiosos mantêm uma barba em cumprimento a um mandamento bíblico de Levítico 19:27. Os mais ortodoxos tomam isto como significando que a barba não deve ser tocada, de maneira alguma, e que seu crescimento deve ser livre.

Este mandamento na realidade aplica-se apenas ao uso da navalha, e a maioria dos Judeus ortodoxos de hoje barbeiam-se com ou cera depilatória ou, em maior número, com um barbeador elétrico , que é mais uma espécie de aparador, em vez de usar navalha. aparador .

No mesmo versículo de Levítico há uma menção a respeito de “ não arredondar os cantos da cabeça”. Esta expressãocantos da cabeça” refere-se às têmporas e à área adjacente. Enquanto muitos Judeus ortodoxos, inclusive alguns hassidim, interpretam isto como significando que não se deve aparar completamente esta área, há outros que acreditam que o cabelo desses locais não devem ser cortados de maneira alguma, de modo que odeixam crescer em longas “peyes” . Algumas delas são encaracoladas e pendem dos lados do rosto, outras são enfiadas atrás das orelhas.

As mulheres, entre os ortodoxos não expõem os cabelos. Entre os ashquenazim existe a prática de as mulheres cortarem curtos os cabelos, imediatamente antes do casamento, e depois usarem uma peruca. A prática, hoje, está restrita principalmente aos mais ortodoxos. As mulheres sefaradim não usam peruca, mas cobrem cuidadosamente os cabelos com um lenço.

CAPÍTULO 46

QUAL A GRANDE BARREIRA NA MENTALIDADE OCIDENTAL PARA SE ENTENDER O MODO DE VIDA JUDAICO ?

O pivô de todas as diferenças entre o mundonão Judaico e o Judaísmo encontra-se na maneira de viver a religião.

O Judaísmo encara o ser humano como corpo e alma, ou seja, a alma tem sua importância na ligação com Deus, na vivência da religião, etc; mas ela necessita do corpo para se elevar em seus anseios. Ou seja, não é possível realizar uma tarefaespiritual neste mundo sem a participação do corpo.

Para o Judeu, viver é algo que envolve estas duas entidades indistintamente. Como comer, como dormir, fazer negócios, gastar dinheiro, desempenhar um determinado papel na sociedade e tudo o mais, são tarefas que necessitam do corpo e da alma para serem desempenhadas.

Quando morre um Judeu, o seu corpo é enterrado com todo o respeito que lhe é devido. Seja ele um assassino, mendigo ou rei. Os cemitérios Judaicos são perpétuos, por este motivo. De acordo com a Torá, mesmo quando a pena máxima da forca era imputada sobre um criminoso, seu corpo não poderia ficar exposto após o por-do-sol. Mesmo este indivíduo merece respeito e não pode tornar-se alvo de zombaria ou ações depreciativas .

Ao fazer negócios, a idéia básica do Judaísmo é que o temor a Deus precisa estar presente. Por isso, o dinheiro é visto como uma fonte real de energia para se realizar coisas boas e grandes. Não é um meio para se obter opulências nem para se realizar extravagâncias. A riqueza é um dom divino como resultado de muito esforço que se deve empreender no trabalho.

Mark Twain escreveu um fascinante artigo intitulado ‘A respeito dos Judeus’ na Harper’s Magazine, em 1897. No final do artigo, ele conclui: “Os Egípcios, os Babilônios e a Rosa Persa encheram o planeta com seus sons e seu esplendor, mas depois murcharam e morreram . Os Gregos e os Romanos os seguiram, fizeram um imenso barulho e se foram. Outros povos floresceram e elevaram alto sua tocha por algum tempo, mas ela se consumiu e agora repousam em seu crepúsculo ou se desvaneceram. O Judeu assistiu a tudo, ultrapassou todos e é hoje o que sempre foi, sem exibir nenhuma decadência, nenhuma debilidade causada pela idade, nenhuma fraqueza de suas partes, nenhuma diminuição de suas energias ou ofuscamento de sua mente alerta, afiada e ágil. Todas as coisas são mortais, menos os Judeus. Todas as demais potências se vão, mas os Judeus permanecem. Qual o segredo de sua imortalidade ? ”

mais ou menos dois anos, li na Folha de São Paulo um artigo assinado por Gilberto Dimenstein fazendo referência às causas de um dos mais crônicos geradores de anti-semitismo de toda a história.

O artigo fazia menção a um dado realmente notável e intrigante: desde o seu lançamento, em 1901, o Prêmio Nobel foi conferido a cerca de 700 personalidades - 140 deles judeus. É uma estatística que impressiona. Os judeus são, hoje, um grupo de 16 milhões, num planeta habitado por quase 6 bilhões de pessoas. Mas são responsáveis por boa parte das grandes descobertas científicas do século.

Um livro lançado na Inglaterra no ano passado, escrito por um advogado de Nova Iorque - Michael Shapiro - atiçou a mística e as discussões sobre uma suposta inteligência superior dos judeus.

Depois de pesquisar e entrevistar filósofos, rabinos, escritores e cientistas de diversas as áreas , Shapiro produziu a lista dos cem mais importantes judeus. Estão alguns dos maiores pensadores e criadores da humanidade. Gente que moldou o que pensamos e até como nos vestimos. Existe algum segredo por trás disso?

O livro é controverso em muitas de suas colocações e levou pancada desde a fase de pesquisa. A polêmica começa logo no topo da lista. O vencedor desta variada galeria não é outro senão Moisés, libertador dos judeus escravizados no Egito e, mais importante, divulgador dos Dez Mandamentos que orientaram os limites da ação humana civilizada.

Ficou em segundo lugar Jesus. Perdeu porque seu nome teria sido usado e abusado em vão, servindo para massacres, perseguições e intolerância; a Inquisição, por exemplo. A lista tem vários consensos. Karl Marx, Sigmund Freud e Albert Einstein, nomes que estão na companhia de Lèvi-Strauss, criador da calça jeans, e do cineasta Steven Spielberg.

Mais um consenso: Abraão, criador do conceito de monoteísmo, absorvido pelo islamismo, catolicismo e protestantismo. Num dos mais célebres símbolos de rebeldia, ele destruiu - segundo a tradição - estátuas de deuses quando ainda vivia em Ur, na Caldéia. Abraão está junto de dois americanos, Jerry Siegel e Joe Shuster, criadores de um homem com poderes divinos: o Super-Homem. O próprio Super-Homem, conta Shapiro, seria “judeu” , batizado com nome hebraico antes de chegar à Terra como uma invenção de marketing para atacar o anti-semitismo que reinava nos EUA.

Como um povo tão pequeno consegue gerar tantos super-homens intelectuais? O segredo é que não existe segredo. Por motivos religiosos, o analfabetismo é inexistente entre os judeus. Aos 13 anos, o menino é obrigado a subir ao púlpito e ler trecho do livro sagrado, a Torá, numa cerimônia chamada Bar Mitzvá. Portanto, ele deve saber pelo menos o hebraico além de sua língua pátria.

Os judeus são ensinados a reverenciar a rebeldia intelectual - rebeldia sintetizada em seu patriarca Abraão, ao destruir ídolos e inaugurar o monoteísmo. Nada mais é do que aquilo que os educadores chamam de ensino crítico; contestar sempre as verdades estabelecidas, princípio básico da pedagogia moderna. É um treinamento decisivo para quem deseja mais que reproduzir, mas inventar.

O bom educador deve ensinar a seus alunos a olhar sempre com uma ponta de desconfiança aquilo em que todos acreditam e dar uma ponta de crédito a idéias ou projetos que todos desmerecem. Ninguém inventa nada se apenas for servil ao conhecimento passado. Para o judeu, o passado é uma base para reflexão e compreensão do presente e do futuro.

Nenhum povo foi tão perseguido e humilhado por tanto tempo como os judeus. Isso acabou gerando uma série de efeitos colaterais. Um deles é o valor da educação para a sobrevivência. Podem arrancar suas terras, propriedades, mas não o que está em sua cabeça.

Alfabetização universal, rebeldia e reverência à educação como arma de sobrevivência - são uma base fundamental, mas não explicam os super-homens intelectuais.

Eles tiveram de ser dotados de extraordinária inteligência e, não menos importante, viver no lugar certo e na hora certa. Desenvolveram suas idéias nas cidades iluminadas culturalmente, centros de debates e reflexões.

Nãonenhum segredo dos judeus escondido na genética ou escolha divina. o óbvio: culto à educação, à multiplicação do conhecimento através da reflexão e a análise das ações em termos de suas conseqüências. Uma característica de todo e qualquer inovador, seja branco, negro, amarelo, homem ou mulher. Ou de qualquer país que progride.


CAPÍTULO 47

ALGUMAS SUPERSTIÇÕES JUDAICAS

Para evitar o mau-olhado

Pendurar na entrada da casa ou de uma loja uma ferradura na qual se amarra um dente de alho e pedras de cor azul.

Amarrar uma corda azul para balançar o berço de um bebê.

Colocar em evidência pedras de cor azul ou vermelha no chapéu ou vestido de uma pessoa.

Dizeralho para teus olhosporque se acredita que o alho tem um poder mágico.

Dizer mashalá, expressão turca que significa “que D’us guarde”.

Cuspir ou simular que se está cuspindo.

Colocar um prego no bolso.

O casamento

Durante a cerimônia de casamento o noivo coloca seu sobre o da noiva para expressar a submissão da mulher. Se, por sua vez, a noiva se apressar e colocar seu sobre o de seu marido, caberá a ela o controle do lar.

Quando uma moça sem recursos se casava, emprestavam-lhe jóias antes dela ir para a mikvé. A noiva, então, usava estas jóias durante oito dias depois do casamento.

– Na visita que se costumava fazer no primeiro Shabat, presenteava-se os recém-casados com pequenos objetos de prata. O recém-casado colocava as peças em um prato e passeava com este ao redor da sala. Isto significa que se for escrito que um dia o recém-casado vai precisar pedir tsedaká, seu destino mudará que ele cumpriu este ato.

Era costume os noivos não saírem de casa por uma semana após o casamento. Durante o dia recebiam visitas, conforme a crença de que se os recém-casados ficassem sempre sozinhos poderiam ser atingidos por forças negativas.

– No oitavo dia, o recém-casado saía de casa pela primeira vez e comprava peixes vivos que eram colocados numa panela grande cheia de água no meio do quarto. Nesta ocasião, trazia um presente para a noiva. Esta, por sua vez, vestia um de seus melhores vestidos e pulava três vezes sobre a panela. A cada vez que pulava pronunciava as seguintes bênçãos: “Que sejas abençoada com muitos filhos, assim como os peixes do mar, e que vivas muitos anos com teu marido e filhos até a velhice e o fim da vida (shivá)”. Este dia era chamado de “Dia dos Peixes”.

Para ajudar o amor matrimonial

– Se um marido se desinteressava da esposa, ela pegava a camisa dele, molhava nas ondas do mar e a preparava para que ele a vestisse.

– A esposa escrevia o nome do marido sobre três folhas de mirta, misturando-as, em seguida, ao vinho de Shabat e lhe dava para beber. (Este procedimento era usado também quando a esposa não amava seu marido).

– A mulher pegava o leite de uma mulher que estava amamentando uma menina e misturava com o leite que seu marido iria beber.

– Se o marido não gostava de ficar em casa, a esposa colocava pregos ao lado de sua cama.

– Se a mulher não queria que o marido desconfiasse dela, colocava sua camisa sobre um burro e depois a dava para que ele a vestisse.

Para ajudar a engravidar

– A mulher pegava um ovo de uma galinha, cozinhava-o em uma panela nova, cortava-o em dois com um fio de cabelo, comia a metade e jogava fora a outra.

– Uma mulher que não conseguia engravidar encostava sua barriga na barriga de uma mulher grávida.

– Dizia-se que ajudava engravidar se a mulher comesse um etrog (fruta cítrica parecida com um limão com formato de mamão papaia, de cor amarela e muito aromática), mais especificamente engolir a parte saliente do etrog.

– A esposa deveria dar a seu marido três ovos ralados para comer.

Segundo uma crença popular, acreditava-se que as árvores se abraçavam e se uniam em Tu Bishvat ( data em que se comemora o Ano Novo das Árvores – cai geralmente no mês de janeiro) . Assim, nesta ocasião, pendurava-se uma roupa, molhada em água do poço com açúcar e água de rosas, entre as árvores. De manhã dava-se essa água para a mulher beber. O casal deveria ir em seguida às ruínas das muralhas antigas da cidade. O marido passava seu braço direito sobre o braço esquerdo da esposa e juntos passavam por sete portas dessas ruínas. Uma senhora idosa os acompanhava, cantando bênçãos a cada vez que passavam por uma porta. Depois deveriam ir à fonte pública beber água, porque era considerada benéfica para quem queria engravidar. Este hábito, que se repetia duas vezes, era considerado como um passeio do qual participavam membros da família, levando inclusive alimentos para a ocasião.

Sobre o sexo de um futuro bebê

– O marido colocava um pouco de sal na cabeça da mulher durante o relacionamento sexual sem que ela percebesse. O gênero (feminino ou masculino) da primeira palavra que a mulher diria, prenunciaria o sexo do bebê.

Para ter um menino, a mulher grávida deveria repetir todas as sextas-feiras, durante nove meses, o nome que daria se tivesse um filho homem.

Sobre uma mulher grávida

– Se uma mulher grávida não conseguisse fazer uma visita a uma amiga que acabara de ter um bebê, deviam mandar-lhe todos os quitutes que haviam oferecido aos que haviam visitado a partu-riente.

Quando a mulher engravidava, costumava-se abrir portas, armários e caixas de sua casa.

Para saber se estava na hora do parto, colocava-se uma rosa molhada no umbigo da grávida; se a rosa se abrisse, era sinal que a hora do parto tinha chegado.

Para facilitar o parto

– Se após completar os nove meses uma mulher não conseguia dar à luz, na sexta-feira se abriam três torneiras, uma após a outra, deixando-as abertas; outra pessoa devia fechá-las.

– Levava-se azeite de oliva para a sinagoga, o qual era chamado de “azeite para Eliahu Hanavi”.

– Colocava-se um anel de diamante sobre o ventre de mulher e se dizia: “Assim como este anel brilha, que o parto brilhe também”.

Para ajudar a nova mãe a ter leite

Alguém pergunta à parturiente: “O que estás comendo?” e ela responde, “leite e mel”. A pessoa diz “leite para o bebê, que o faça crescer com abundância”. Depois disto, abrem-se as torneiras e deixa-se o local.

– Amarram-se as espinhas de um peixe com um fio, jogando-as ao mar e dizendo: “leite, leite”.

– Dá-se à nova mãe uma bebida preparada com amêndoas e açúcar.

Para trazer fartura

– Se você pegasse um ovo cru emprestado, devia devolvê-lo, porque o ovo era considerado como um objeto vivo e representava barake (abundância).

– Nas semanas que antecediam Rosh Hashaná, não se podia dar a ninguém farinha ou ovos pela mesma razão.

Sobre as crianças

– Se alguém passasse sobre uma criança, acreditava-se que esta criança não cresceria mais. Assim, se deveria passar de volta para que isto não ocorresse.

– Se uma criança demorasse para andar, amarravam-se os seus pés e a levavam para a sinagoga, onde diziam: “Dá-lhe pés para que possa caminharouComo eu caminhei, você caminhará”. Se ainda assim a criança não caminhasse, levavam-na ao lugar no qual nasceu e jogavam sobre ela um cântaro de água, dizendo: “Aqui estou cortando teu espanto”.

– Se uma criança era gulosa, colocavam-na perto do forno e se dizia: “Da mesma forma que este forno é farto, que o seja também teu estômago”.

– Acreditava-se que os dentes de uma criança não cresceriam se ela se olhava num espelho.

– Se uma criança estava demorando a ter dentes, levavam-na para a rua à noite, com um pedaço de pão escondido em sua roupa.

Quando o primeiro dente de uma criança começava a aparecer, sua mãe ou um parente colocava um grão de trigo em sua mão, dizendo: “Como este trigo se abre, que teus dentes saiam”.

Quando nascia o primeiro dente festejava-se comendo aveia, pois a aveia se abre quando é cozida.

– A pessoa que notava pela primeira vez o dente, deveria dar um presente à criança.

Para reforçar a amizade e evitar brigas

Não se deve sentar no lugar do qual alguém se levantou, até que o lugar esfrie.

Não se passa um sabão diretamente de mão em mão; deve-se primeiro colocar o sabão na palma da mão ou apoiá-lo em algum lugar.

Não se deixa uma tesoura aberta.

Não se deve brincar com chaves.

Não se deve passar de mão em mão sabão, tesoura e colher. Primeiro se deve colocar em outro lugar, mas se isso acontecer deve-se dizer “pu, pu”, como se estivesse cuspindo.

Não se deve deixar sapatos virados para baixo.

– Deve-se colocar os chinelos lado a lado, de maneira correta, senão sai briga.

Dinheiro

– Se a mão direita estiver coçando, vai-se fazer um pagamento.

– Se a mão esquerda estiver coçando, vai-se receber dinheiro.

– Se aparecer um círculo desenhado no fundo de uma xícara de café turco que se acabou de tomar, vai-se receber dinheiro.

Avisos de boas novas

– Uma borboleta voando à noite, ao redor de uma lâmpada.

– Se se espirra três vezes no dia de Shabat, à tarde.

Prenúncio de visita

– Quando se amassa a farinha, se um gomo empedra significa que esse pão será comido por uma visita.

– Se estiver coçando a sobrancelha, significa que se vai conhecer alguém.

Para que se retorne para casa

– Se deseja-se que um membro da família que vive fora retorne para casa, enviam-se flores de sua horta ou jardim para que ele as sinta.

Rosh Hashaná

– Costuma-se usar algo novo em Rosh Hashaná, mas não devem ser sapatos ou chinelos, porque deve-se começar usando algo novo pela cabeça e não pelos pés.

Kipur

– Na noite de Yom Kipur se coloca azeite em uma vasilha ao lado de uma luz, antes de ir à sinagoga. Se a pessoa se enxerga em um espelho, isto é um sinal bom, de que tudo será leve e claro durante o ano.

Pessach

– No oitavo dia de Pessach, jogam-se ervas verdes pela casa e se diz: “Ano verde, que não seque”.


REFERÊNCIAS E CITAÇÕES DA BÍBLIA E DO TALMUD FEITAS NESTA OBRA


1. -

"Um pagão apresentou-se a Shamai e lhe disse: Converter-me-ei ao judaísmo se me puderes ensinar toda a Torá, a Lei inteira, enquanto possa me sustentar sobre um . Shamai o expulsou com a vara que tinha na mão. Quando se apresentou a Hilel com a mesma pretensão, Hilel o converteu, respondendo ao seu pedido da seguinte maneira: O que não queres que te faça a ti, não faças a teu próximo. Eis toda a Lei; todo o resto - é mero comentário. Vai e estuda." (Talmud, Shabat, 31a)


2. -

"Simeão o Justo era um dos últimos membros da Grande Assembléia. Ele dizia: O mundo permanece graças a três coisas: a Lei, o Culto e a Caridade". (Pirquei-Avot I, 2)


3. -

Existem oito degraus no dever da caridade:

· O primeiro e mais baixo degrau é dar, mas com relutância ou contra a vontade. Esta é a esmola da mão, não do coração.

· O segundo é dar alegremente, mas não proporcionalmente à necessidade do sofredor.

· O terceiro é dar com alegria e em proporção, mas depois de solicitado.

· O quarto é dar alegremente, em proporção e sem ser solicitado; pondo, entretanto, a esmola na mão do pobre e nele provocando, assim, a dolorosa emoção da vergonha.

· O quinto é dar de maneira tal que o necessitado receba a esmola e saiba quem é o seu benfeitor, sem ser-lhe conhecido. Assim agiam alguns dos nossos antepassados, que costumavam amarrar o dinheiro nas abas trazeiras das roupas, para que os pobres o pudessem tirar sem serem vistos.

· O sexto degrau, ainda mais elevado, é conhecer os beneficiários da nossa caridade, sem que eles saibam quem somos. Assim procediam aqueles dos nossos antepassados que levavam suas dádivas caridosas para as moradias dos pobres, precavendo-se para que os seus próprios nomes permanecessem ocultos.

· O sétimo é ainda mais louvável, a saber: distribuir as esmolas de modo tal que nem o benfeitor saiba quem são os auxiliados, nem estes o nome do seu benfeitor. Isto faziam os nossos avós caridosos no Templo. Pois naquele santo edifício existia um lugar chamado Câmara do Silêncio ou da Inostentação, onde os bons depositavam secretamente o que seu generoso coração lhes sugeria e do qual as mais respeitáveis famílias pobres eram sustentadas, com igual discrição.

· Finalmente, o oitavo e mais meritório degrau, é antecipar a caridade, evitando a pobreza, a saber: ajudar o irmão empobrecido, seja com um presente considerável, seja ensinando-lhe uma profissão ou estabelecendo-o no comércio, para que ele possa ganhar honestamente a sua vida e não seja forçado a estender a mão para a caridade. É a isso que a Escritura se refere, quando diz: "E, quando teu irmão(*) empobrecer, e as forças decaírem, então sustentá-lo-ás, e assim o estrangeiro e o peregrino para que viva contigo".

Este é o mais alto degrau, - É o cume da Escada de Ouro da Caridade. (Adaptado de Iad, Matnot-Aniím, X, 1-14 de Maimônides).

(*) "Não está escrito 'o homem pobre' - diz o Talmud - Mas 'o teu irmão', para mostrar que ambos são iguais".


Dez coisas poderosas foram criadas no mundo:

Uma rocha é poderosa, mas o ferro pode rompê-la.
O ferro é poderoso, mas o fogo pode maleá-lo.
O fogo é poderoso, mas a água pode extingui-lo.
A água é poderosa, mas as nuvens podem levá-la.
As nuvens são poderosas, mas o vento pode dispersá-las.
O vento é poderoso, mas o homem pode suportá-lo.
O homem é poderoso, mas o medo pode degradá-lo.
O medo é poderoso, mas o vinho pode afogá-lo.
O vinho é poderoso, mas o sono pode dissipá-lo.
O sono é poderoso, mas a morte é mais poderosa.
E a Caridade é a mais poderosa entre todas, pois "A caridade salva da morte" ( "Tsedacá Tatsil Mimávet" - em hebraico, o tradicional brado dos recolhedores de esmolas nos funerais judaicos) Talmud, Baba Batra, 10


4. -

"Cinco discípulos tinha Rabán Iohanan ben Zacai, que eram: Rabi Eliézer ben Hírcanos, Rabi Josue ben Hananiá, Rabi Iose Hacoén, Rabi Simeão ben Nataniel e Rabi Elazar ben Arach... Disse-lhes: saí e vêde, qual é o melhor caminho que deve seguir o homem?
Rabi Eliézer disse: a benevolência; Rabi Josué disse: um bom amigo; Rabi Iose disse: um bom vizinho; Rabi Simeão disse: a providência; Rabi Elazar disse: um bom coração. Disse-lhes: prefiro as palavras de Elazar ben Arach, uma vez que em suas palavras estão incluídas as vossas". (Pirquei-Avot II, 10 e 13)



5. -

Por que criou Deus um Adão e não muitos de uma vez? Ele o fez para demonstrar que um homem é um universo inteiro. Ele também quis ensinar à humanidade que aquele que mata um ser humano é tão culpado como se tivesse destruído o mundo inteiro. Igualmente, quem salva a vida de um ser humano merece tanto quanto mereceria se tivesse salvo toda a humanidade.

Deus criou um homem para que alguns homens não se considerassem superiores a outros e não se orgulhassem de sua linhagem, assim: - Sou descendente de um Adão mais distinto que você.

Também o fez para que o pagão não pudesse dizer que, se muitos homens foram criados ao mesmo tempo, isto constituía prova decisiva que havia mais de um Deus.

Finalmente, Ele o fez para estabelecer Seu próprio poder e glória. Quando um cunhador de moedas faz seu trabalho, ele usa uma matriz e todas as suas moedas são iguais. Mas o Rei dos Reis, abençoado seja Seu nome, criou toda a humanidade no molde de Adão e, ainda assim, nenhum homem é idêntico a outro. Eis porque cada pessoa deve respeitar a si mesma e dizer, com dignidade: - Deus criou o mundo por minha causa. Portanto, que eu não perca a vida eterna por causa de alguma vã paixão! (Talmud, Sanhedrin, 37)

"Deus não repele nenhuma criatura; as portas estão abertas; entre quem quiser. Todos são iguais perante Deus: as mulheres como os homens, os servos como os amos, os pobres como os ricos". (Midrash Shemot-Rabá 10: 21)

"Alimenta-se aos pobres dos estrangeiros como aos de Israel, visita-se a seus doentes como aos de Israel, enterra-se a seus mortos como se faz com os de Israel, e aos aflitos dos estrangeiros se atende da mesma maneira como se faz com os aflitos de Israel". (Talmud, Guitin 61a)



6. -

"Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão". (Êxodo 20, 2)



7. -

"Mulher virtuosa - quem a achará? O seu valor em muito excede o de jóias finas.
A força e a dignidade são os seus vestidos. Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme a Deus, essa será louvada". (Provérbios 31: 10, 25 30)


8. -

"Eis a minha aliança que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência: todo macho entre vós será circundado... A minha aliança estará na vossa carne e será uma aliança perpétua". (Gênesis 17: 10 e 13)



9. -

"Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus: não farás nenhum trabalho, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro...". (Êxodo 20, 8-II)

"Se desviares o teu de profanar o sábado e de cuidar dos teus afazeres no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia consagrado a glorificação do Senhor, e o honrares pela abstinência de tuas ocupações, desejo e palavras vãs, - então encontrarás tua felicidade no Senhor. Elevar-te-ei sobre os altos da terra e sustentar-te-ei com a herança de Jacob, teu patriarca". (Isaías 59, 13_14)


10. -

Em que se distingue esta noite das demais? Por que todas as noites comemos ora Pão ora Matsá; esta noite, somente Matsá? Por que todas as noites comemos toda espécie de verduras; esta noite, somente raízes amargas? Por que todas as noites não molhamos alimentos nenhuma vez; esta noite, duas vezes? Por que todas as noites comemos ora sentados ora reclinados; esta noite todos reclinados? ( Hagadá de Péssach)


11. -

"Eu creio com perfeita que o Criador é Uno e não há unicidade semelhante, de modo algum; que Ele é nosso Deus, que Ele o foi e o será"

"Eu creio com perfeita que o Criador não é corpo, nem cabe atribuir-lhe nenhuma forma corpórea e nenhuma imagem pode representá-lo"

"Eu creio com perfeita que somente ao Criador devemos rezar, e que a ninguém mais devemos dirigir nossas preces". (Segundo, terceiro e quinto dos "13 artigos da " de MAIMÔNIDES)


12. -

"O Estado de Israel será baseado nos preceitos de liberdade, justiça e paz ensinados pelos profetas hebreus; sustentará a plena igualdade política e social de todos os seus cidadãos, sem distinção de raça, credo ou sexo; garantirá plena liberdade de consciência, religião, educação e cultura; salvaguardará a santidade e inviolabilidade dos escrínios e lugares santos de todas as religiões; e se cingirá aos princípios da Carta da ONU". Do "Diário Oficial" No 1 do Governo de Israel em 14-5-1948